Rio de Janeiro – Em seu primeiro discurso oficial no Brasil, o papa Francisco afirmou, em português, que “Cristo bota fé nos jovens e confia-lhes o futuro e sua própria casa. E, também, os jovens botam fé em Cristo. Eles não têm medo de arriscar a única vida que possuem porque sabem que não serão desiludidos”. Ao iniciar sua fala, de pouco mais de 10 minutos, no Palácio Guanabara, sede do governo do Rio de Janeiro, nas Laranjeiras, Zona Sul da cidade, ele pediu licença para entrar e passar esta semana com os brasileiros. “Aprendi que para ter acesso ao povo brasileiro é preciso bater no portal de seu coração”, afirmou, esbanjando simpatia, ao lado da presidente Dilma Rousseff. “Não tenho ouro e prata, mas trago o que de mais precioso nos foi dado: Jesus Cristo. Venho em seu nome para alimentar a chama de amor fraterno que arde em cada coração”, disse o papa, para delírio dos convidados presentes à solenidade. “A juventude é janela pela qual o futuro entra no mundo. Por isso, nos impõe grandes desafios”, afirmou, numa sutil referência aos protestos ocorridos no país no mês passado.
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Ao fim do seu discurso, o papa beijou a presidente, que, antes, em um pronunciamento bem mais politizado, agarrou-se ao prestígio do pontífice e ao público alvo da Jornada Mundial da Juventude e disse que tanto a Igreja Católica quanto o governo brasileiro comungam os ideais de justiça e fraternidade. “Lutamos contra um inimigo comum, a desigualdade, em todas as suas formas”, discursou Dilma. Depois, numa referência direta às manifestações, afirmou: “Democracia gera desejo de mais democracia. Inclusão social provoca cobrança de mais inclusão social. Qualidade de vida desperta anseio por mais qualidade de vida. Para nós, todos os avanços que conquistamos são só um começo”.
Para a presidente, a presença do papa no país é uma oportunidade para se renovar o diálogo em torno de valores comuns, como justiça social, solidariedade, direitos humanos e paz entre as nações. “Sabemos que temos diante de nós um líder religioso sensível aos anseios de nossos povos por justiça social, pela oportunidade para todos e a dignidade para os cidadãos.”
Brincadeiras
O bom humor e a disposição de Francisco em sua primeira visita ao Brasil ficaram explícitas nas brincadeiras que ele fez ainda durante o voo comercial da Alitalia que o trouxe de Roma. Segundo ele, por uma questão de lógica, o substituto de Bento XVI não poderia ser um brasileiro. “Deus já é brasileiro e vocês queriam um papa?”, ironizou ele, argentino de nascimento.
A presidente Dilma recepcionou Francisco na Base Aérea do aeroporto do Galeão, pouco antes das 16h. Ela estava acompanhada por diversos ministros, pelo governador do Rio, Sérgio Cabral, pelo prefeito da cidade, Eduardo Paes e pelo vice-presidente Michel Temer. Um dos mais efusivos era o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, católico fervoroso, seminarista na juventude e responsável pelo diálogo do Planalto com a Igreja.
A chegada de Francisco causou apreensão ao serviço de segurança ao levar 10 mil pessoas às ruas da capital fluminense, que queriam ficar próximas do chefe da Igreja Católica para tirar fotos ou tocar no braço de Francisco, o primeiro pontífice latino-americano. Batizado de “papa do povo”, o homem fez jus ao apelido e, para desespero da segurança, desfilou primeiro em um carro com vidro aberto e depois no Papamóvel sem vidros laterais e sem blindagem. Francisco abençoou crianças, deixou-se fotografar pelos fiéis e enlouqueceu os seguranças, que se desdobravam para tentar manter a integridade de um papa mais disposto a ampliar o contato com a população. Houve confusão no trajeto porque o veículo ficou encurralado de um lado pela população e de outro por diversos ônibus.
Na passagem do cortejo pelas ruas do Centro, grupos promoveram beijaço e mostraram seios contra a visita. Do lado de fora da sede do governo fluminense, dezenas de manifestantes, entre eles um grupo de encapuzados, promoveram um protesto e entraram em confronto com policiais. Após a cerimônia oficial, acompanhada por 650 convidados, o papa Francisco participou de um encontro reservado com a presidente Dilma e depois seguiu para o Palácio Apostólico do Sumaré, residência oficial da Arquidiocese do Rio, no alto da Estrada do Sumaré, na Zona Norte, onde está hospedado em um quarto de 45m². Não está marcado nenhum compromisso oficial para hoje.