Após a saída da presidente Dilma Rousseff e do papa Francisco do Palácio Guanabara no começo da noite de ontem, manifestantes entraram em confronto com a Polícia Militar. Cerca de mil pessoas participaram do protesto, que partiu do Largo do Machado, no Catete (Zona Sul), em direção à sede do governo do Rio de Janeiro, no Bairro das Laranjeiras. Eles pararam a cerca de 200 metros do Palácio Guanabara, por causa de barreiras policiais, e queimaram um boneco representando o governador Sérgio Cabral. Até aí não havia registro de violência nem vandalismo. A confusão começou depois que garrafas de água, pedras e um coquetel molotov foram jogados pelos manifestantes contra a polícia, que reagiu com bombas de gás lacrimogêneo e jatos d’água.
Veja a galeria de fotos do primeiro dia da Jornada Mundial da Juventude
Pelo menos três pessoas ficaram feridas e cinco manifestantes foram presos até o fechamento desta edição. Um dos detidos levava 20 coquetéis molotov na mochila. Uma pessoa foi baleada na perna. Segundo representantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) que acompanhavam a manifestação, o tiro foi disparado por soldados que faziam a segurança do palácio, logo no início da confusão. Um PM foi atingido por um coquetel molotov e teve que receber atendimento médico.
Um dos alvos do protesto eram os gastos públicos com a visita do papa. A estimativa é de que os governos federal, do estado do Rio e da capital fluminense gastaram mais de R$ 115 milhões com a organização e os preparativos da Jornada Mundial da Juventude (JMJ). A manifestação de ontem foi semelhante às registradas durante a Copa das Confederações, que o Brasil sediou em junho: a marcha, que começou pacífica, acabou em confusão. Muitas pessoas entraram em lojas para se proteger. Antes de os ativistas chegarem ao local, muitos fiéis estavam por perto, na esperança de ver o papa – incluindo idosos e crianças –, mas preferiram sair ao perceber a chegada dos manifestantes.
Desta vez, bandeiras de partidos de esquerda puderam ser vistas no meio da multidão. Os convidados que deixaram o palácio após a solenidade de recepção do papa não viram o tumulto. Como a visita de Francisco é tratada como uma passagem de chefe de Estado, o aparato de segurança foi reforçado para minimizar eventuais danos. Várias ruas das Laranjeiras foram bloqueadas por policiais militares, equipados com escudos e apoiados por veículos blindados. Dessas barreiras, apenas peregrinos e moradores do bairro podiam passar. Mais de mil homens participaram do esquema de segurança no entorno do Palácio Guanabara, incluindo policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope). Havia também a presença de agentes federais.
Seios e vaias Durante a tarde, também no Largo do Machado, oito mulheres se reuniram para protestar contra a vinda do papa Francisco ao Brasil. Com os seios expostos, elas entoaram palavras de ordem a favor do aborto e do sexo livre. As manifestantes usavam chifres vermelhos e vestiam roupas inspiradas no candomblé. Um dos refrões dizia: “Volte lá, volte para o seu lugar”. As mulheres disseram que fazem parte de grupos de teatro e garantiram que não pertencem a nenhum movimento político. Em seus corpos, elas escreveram dizeres como “Estado laico” e “liberdade”. Em um determinado momento, simularam uma série de “confissões”, afirmando: “Eu uso anticoncepcional”, “Uso camisinha”, “Eu já fiz aborto” e “Minha mãe não casou virgem”.
Um grupo de jovens católicos que se reunia no mesmo local vaiou o protesto no momento em que as manifestantes exibiram os seios. Houve uma pequena troca de provocações, mas sem confusão. Alguns fiéis começaram a cantar para abafar o som das manifestantes: “Ei, ei, ei, Jesus é o nosso rei”. Em resposta, as feministas usaram um megafone para seguir com a manfiestação. Mais protestos estão marcados para esta semana no Rio de Janeiro.