O papa Francisco faz uma pausa nesta terça-feira no Rio de Janeiro, um dia depois de ter sido aclamado por dezenas de milhares de peregrinos em sua chegada ao Rio, enquanto centenas de pessoas protagonizaram um protesto que terminou em violência.
A chegada do Papa argentino à cidade em um carro simples, que ficou preso durante 12 minutos no trânsito enquanto uma multidão o rodeava em delírio, atirava presentes pela janela e até o tocava em meio ao desespero dos seguranças gerou questionamentos sobre as operações de segurança.
A prefeitura do Rio de Janeiro disse que o motorista do carro errou o percurso. A Secretaria de Segurança para Grandes Eventos - que responde ao ministério da Defesa - sustentou que o próprio Papa pediu para o motorista diminuir a velocidade para saudar o povo.
"Não se deve dramatizar o que aconteceu. Tudo correu bem, ninguém foi ali para prejudicar o Papa", indicou o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi.
"O secretário do Papa me disse que estava assustado, mas que o Papa permaneceu sorridente", acrescentou.
O primeiro Papa latino-americano, que defende uma Igreja próxima dos pobres, está empenhado em ter contato com o povo, e em um trajeto posterior pelo centro da cidade em um papamóvel aberto beijou várias crianças e não perdeu a calma.
"Obrigado! Obrigado! Obrigado a vocês todos e a todas as autoridades pela magnífica acolhida em terra carioca!", disse o Papa nesta terça-feira em sua conta no Twitter.
--- Confrontos violentos ---
Horas depois, após a reunião do Papa com a presidente Dilma Rousseff no Palácio Guanabara, centenas de manifestantes que protestavam perto dali contra os gastos públicos de 53 milhões de dólares para sua visita e para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) foram dispersados pela polícia com bombas de gás lacrimogêneo e canhões lança-água.
Um fotógrafo da AFP foi ferido na cabeça por um cassetete da polícia, e um manifestante foi atingido na perna por uma bala de borracha. Segundo a polícia, os incidentes começaram quando um manifestante lançou um coquetel molotov. Oito pessoas foram detidas, de acordo com o último balanço policial.
O Papa, que defende uma Igreja missionária, convocou em seu primeiro discurso ao lado de Dilma os jovens a evangelizar as nações, num momento em que os católicos perdem espaço para os evangélicos e para o laicismo.
Em junho, mais de um milhão de pessoas tomaram as ruas de várias cidades do Brasil para exigir melhores serviços públicos e protestar contra os milionários gastos da Copa do Mundo e contra a corrupção.
O Vaticano não teme que as manifestações perturbem a visita do Papa, já que sabe que "não são dirigidas contra o Papa e a Igreja".
A operação de segurança para a visita do pontífice conta, no total, com 30.000 militares e policiais.
--- "Como uma pessoa normal" ---
Vestido com uma túnica simples e um crucifixo de prata, o papa Francisco foi recebido em sua primeira visita ao país com mais católicos do mundo por dezenas de milhares de peregrinos agitando bandeiras - em sua maioria brasileiras e argentinas - que choraram e gritaram durante sua passagem.
"Foi emocionante, o Papa era como uma pessoa normal, até tinha cara de surpreso, como se não esperasse tanta coisa", comentou à AFP Jorge Pantigoso (34), do Peru, depois de vê-lo passar perto da Catedral Metropolitana, no centro do Rio.
O Papa também convocou os jovens a evangelizar, e pediu que eles avancem "para além das fronteiras do que é humanamente possível e criem um mundo de irmãos e irmãs", em seu primeiro discurso no Brasil, antes de se reunir com Dilma.
O Papa, de 76 anos, não tem reuniões anunciadas em seu segundo dia no Brasil e descansará na residência do Sumaré, encravada na Floresta da Tijuca, mas Lombardi informou que ele pode se reunir com quem desejar.
O arcebispo do Rio, Dom Orani Tempesta, inaugurará oficialmente nesta terça-feira a JMJ com uma missa na praia de Copacabana, prevista para as 18h00 (horário de Brasília) e na qual são esperadas 500.000 pessoas.
Este será o único ato central da JMJ sem a presença do Papa, que presidirá o evento, que ocorre até 28 de julho.
O papa Francisco, que desde sua eleição, em março, insiste na necessidade de que a Igreja, os fiéis e os governos prestem mais atenção aos pobres, prevê visitar na quarta-feira o maior santuário católico do Brasil, em Aparecida, no estado de São Paulo, onde as forças de segurança encontraram no domingo uma bomba de fabricação caseira e a detonaram.