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Estado de Minas

Imagem da padroeira é símbolo da miscigenação


postado em 24/07/2013 06:00 / atualizado em 24/07/2013 07:24

 

Para conseguir reproduzir estandartes com a santa negra, Neusa Santos segue uma imagem que tem em casa (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Para conseguir reproduzir estandartes com a santa negra, Neusa Santos segue uma imagem que tem em casa (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Ícone brasileiro, Nossa Senhora Aparecida é uma das santas de maior devoção entre os católicos. Poucos sabem, no entanto, que antes de se tornar Aparecida, ela era Nossa Senhora da Conceição, originalmente uma santa branca e de feições europeias. Só se tornaria negra ou amarronzada, conforme as variadas versões, pela ação do tempo no fundo do rio, porque ficava na cozinha de uma casa perto de carvão, ou devido à oxidação da sua cor original durante o período que passou dentro da água caudalosa. “Como em sua gênese a representação de Nossa Senhora da Conceição era branca, não vejo sentido em branquear Nossa Senhora Aparecida, pois esta voltaria a ser N. Sra. da Conceição”, alerta Raphael João Hallack Fabrino, mestre em patrimônio cultural e gerente de Identificação do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha/MG).

 

Segundo o pesquisador, a arte sacra procurava se libertar da representação do biotipo europeu, especialmente dos trabalhos produzidos na colônia portuguesa a partir do século 18. “Apesar de seguir os cânones do estilo barroco, tinha o objetivo de aproximar as imagens dos fiéis das colônias, onde estavam os negros, índios, mulatos e caboclos”, explica. Partindo desse pressuposto, não é incomum a aceitação, devoção e culto de uma Virgem negra, como estímulo à conversão de africanos e índios.

 Uma vez que a imagem de Nossa Senhora Aparecida foi achada por homens simples, pescadores de uma comunidade paulista provavelmente povoada por portugueses, índios e negros, é de se esperar que a devoção a uma Virgem morena ganhasse força. “A devoção religiosa é carregada de um dinamismo que interfere no culto e muitas vezes na própria a devoção. São Francisco de Assis, por exemplo, era representado com um crânio em uma das mãos no século 18. Atualmente apresenta pássaros e outros animais”, compara o especialista.

 

Filho de um europeu com uma negra, o santeiro Carlos Perret recusou vários pedidos para clarear réplicas(foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Filho de um europeu com uma negra, o santeiro Carlos Perret recusou vários pedidos para clarear réplicas (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Em esculturas, a Virgem é representada em cor mais escura do que a impressa, em santinhos e estandartes. Uma explicação para isso poderia ser a piora na qualidade de reprodução das cópias, devido ao tipo de material e contraste. “Nossas imagens são registradas em cartório e escolas de belas-artes. Pirataria é crime, mas é comum fazerem cópias das nossas pinturas e distorcerem tudo”, garante Adriana Martinelli, gerente da Estamparias Lauro Martinelli, de São Paulo, há mais de 80 anos no mercado nacional oferecendo estampas de santos e outras.

 “Para respeitar a originalidade da história, é bom que a imagem de Nossa Senhora Aparecida seja negra”, pontua o padre Jorge Alves Filho, doutor em teologia e pároco da Paróquia Nossa Senhora Aparecida e São Miguel, em Contagem, Região Metropolitana de BH. O padre lembra que a tonalidade da santa não deveria interferir na fé. “Para ser devoto de Nossa Senhora, não importa a cor, mas sim o mistério da presença de Deus por intercessão da Virgem Maria”, completa. Assim seja.


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