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Longe dali, porém, a santa tem sido retratada de forma livre, confeccionada por variados artistas em diferentes processos artesanais e industriais, incluindo peças importadas da China. Nem sempre as cópias obedecem ao original. Para indignação de parte dos devotos, Nossa Senhora Aparecida ultimamente passou a ser encontrada com tom de pele mais claro em relação à imagem original e traços finos, quase europeus. “Nossa Senhora Aparecida está desbotada, quase branca. Achei uma aberração, uma falta de respeito com a história da santa, que sempre foi negra”, protesta a artesã Neusa Santos, de 82 anos, mostrando santinhos com a imagem mais pálida e manto vermelho, destoando do tradicional azul com detalhes dourados.
“As pessoas ainda são muito preconceituosas, sabe? Outro dia, chegou uma senhora ao meu ateliê e disse com todas as letras: preto na minha casa não entra, nem santo”, contou o santeiro de Santa Luzia Carlos Perret, de 50 anos, artesão desde os 15. Filho de pai francês e mãe negra, o artista já recebeu inúmeros pedidos para alterar a cor da pele de santos como Aparecida e Santa Efigênia e do irmão dela, São Elesbão, de origem africana. Recusou todos eles. “Embora meu pai tenha sido branco, tenho uma mãe que não é loura e não posso fazer isso. Deixo claro para o cliente que melhor seria ele trocar de devoção por uma santa branca. Infelizmente algumas pessoas colocam a questão estética na frente da própria devoção ao santo”, lamenta.
Virgem morena
“Não temos controle sobe a livre produção das imagens de Nossa Senhora Aparecida, cantada como Virgem Morena, cor que amálgama as diferentes raças que formam o nosso povo. Quanta beleza e originalidade há nisso!”, ensina dom Darci José Nicioli, bispo auxiliar da Arquidiocese de Aparecida. Ele garante apenas a autenticidade da imagem oferecida ao papa Francisco, entalhada em cedro brasileiro, com pátina de cera de abelha. “Será um belíssimo presente, posso garantir", afirma.
Como de outras vezes, o bispo de Aparecida encomendou a peça ao escultor Paulo Henrique Ferreira Pinto, o Sôdem, natural de Campanha, região do Sul de Minas, terra de tradicionais santeiros. Devoto de Aparecida, Sôdem comprou “panos novos” para conhecer o papa Francisco de perto e acompanhar a entrega da imagem feita pelas próprias mãos. “Minha imagem é de madeira, amarronzada e com o fundo escurecido, bem pretinho. A santa tem de ser igual ela é, mas algumas pessoas andam querendo modernizar demais as coisas”, critica o santeiro, que recebeu elogios de todo o país ao ter o seu trabalho divulgado na internet. “Mas houve comentários maldosos, como o de uma mulher que disse assim: ‘Duvido que essa santa pretinha vá ser venerada no Vaticano’. Nem dei ouvidos”, afirmou.