Contido e poético durante o discurso no Palácio da Guanabara, o papa Francisco deve adotar um tom mais político na homilia, na basílica do Santuário Nacional Nossa Senhora Aparecida, prevista para as 10h30 de hoje. O discurso é esperado com grande expectativa pelos quase 1,5 mil bispos e 200 mil fiéis que estarão na histórica cidade católica de São Paulo batizada com o nome da santa. “Só vamos saber quem realmente é o papa Francisco a partir desta semana. Amanhã (hoje), ele começa a dizer a que veio e como será seu pontificado”, disse ao Estado de Minas Frei Betto.
O religioso evitou prever a linha de atuação que será adotada pelo papa, brincando que “não tem bola de cristal”. Apesar de alguns expoentes da Igreja destacarem que Francisco atua politicamente, mas jamais de forma explícita, Frei Betto lembrou que o papa fez um discurso duro contra a União Europeia e a Itália na ilha de Lampedusa, onde homenageou os milhares de imigrantes africanos mortos no Mar Mediterrâneo ao tentarem entrar ilegalmente no continente. Na oportunidade, Francisco afirmou que “a globalização da indiferença nos tirou a capacidade de chorar”.
O religioso define Francisco como um papa “doutrinariamente conservador e socialmente progressista”, baseado, sobretudo, nas opiniões e nas atitudes tomadas por ele durante o tempo em que foi bispo na Argentina. “Ninguém chega a cardeal e papa sendo doutrinariamente progressista. Isso quase aconteceu com dom Ivo Lorscheiter durante o conclave de 1980, mas a Igreja optou por João Paulo II. A oportunidade simplesmente passou”, lembrou Frei Betto.
Sutileza
Para o monsenhor Antônio Luiz Catelan, o papa terá o cuidado de adotar um tom político, mas respeitoso, já que é chefe de Estado e não pode se envolver em questões internas. Monsenhor Catelan aposta em um pronunciamento subjetivo, embora incisivo, parecido com as palavras proferidas no Palácio da Guanabara. “O papa Francisco é muito sutil, sempre atuou politicamente, mas concentrado em ações de bastidores.”
Uma das histórias citadas por religiosos foi a de que o papa Francisco, certa vez, teria emprestado sua carteira de identidade para um perseguido político para que ele pudesse cruzar a fronteira com o Brasil e, daqui, viajar para outro país, escapando da ditadura argentina.
Para monsenhor Catelan, o discurso do pontífice na segunda-feira teve um toque político, embora discreto. Ao citar as boas relações entre a Igreja e o Brasil, não há como desvincular do acordo assinado entre o governo e a Santa Sé em 2008. “Ao afirmar que a juventude é a janela pela qual o futuro entra, o papa abordou também valores materiais e imateriais, como a educação, a saúde e o direito à vida que permeiam os anseios dos jovens.” (PTL)