Jornal Estado de Minas

Área em Guaratiba vai virar conjunto habitacional

Terreno receberá obra do programa "Minha Casa, Minha Vida"

Agência Estado

Terreno virou lamaçal devido às chuvas inesperadas que caíram no Rio de Janeiro - Foto: AFP PHOTO / Nelson ALMEIDA  

Dispensado pelos organizadores da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) por ter virado um lamaçal, o terreno em Guaratiba, na zona oeste do Rio, onde o evento seria encerrado ontem pelo papa será transformado em um conjunto habitacional do programa "Minha Casa, Minha Vida" chamado "Campo da Fé do Papa Francisco". O anúncio foi feito pelo arcebispo do Rio, d. Orani Tempesta, na missa de envio, em Copacabana, e confirmado pelo prefeito Eduardo Paes.

 "O fato é que a Igreja investiu muitos recursos ali e isso não poderia ser desperdiçado. Só os donos da área se beneficiariam. A Prefeitura vai desapropriar a área pela via judicial e vamos fazer com o Instituto dos Arquitetos do Brasil um concurso para ali fazer um bairro popular para os mais pobres", escreveu o prefeito.

 Veja a galeria de fotos da missa do Envio da JMJ

 Veja a galeria de fotos dos fiéis em Copacabana

Paes explicou que a desapropriação via judicial é uma forma de garantir a correta avaliação do terreno, incluindo nos cálculos o investimento do comitê organizador da JMJ na preparação da área - mas sem contabilizá-lo como ativo do terreno e, sim, como "doação" da Igreja.

 O prefeito não estimou o valor a ser investido no novo bairro. "Se tivesse acontecido o evento lá, o investimento da Igreja tinha se justificado. Mas como ele não aconteceu, eu vi o d. Orani muito angustiado", ele disse.

 Paes reconheceu a falta de boas condições de moradia em Guaratiba - um dos bairros de Índice de Desenvolvimento Humano mais baixos do Rio, 118º lugar em 126 regiões pesquisadas -, citou a construção do BRT TRansoeste (corredor de ônibus que liga a zona oeste a bairros da zona norte) como exemplo de investimentos e afirmou que a Prefeitura investirá em infraestrutura para o novo bairro, como saneamento, escolas e clínicas da família.

 

Anunciado como a "terra prometida" da JMJ em novembro de 2012, o terreno de Guaratiba, de 1,7 milhão de metros quadrados, foi preparado durante cinco meses. Não pôde ser usado para a missa campal e a vigília após dias de chuva incessante no Rio. As atividades foram então transferidas para Copacabana.

 O uso do terreno está sendo investigado pelo Ministério Público, por se tratar de uma Área de Proteção Permanente. Suspeita-se de loteamento irregular, aterro clandestino e presença de milícia na região. Parte do terreno teria entre os donos o empresário Jacob Barata Filho, um dos principais donos de empresas de ônibus do Rio. Ontem, Paes negou que houvesse irregularidades no licenciamento ambiental do terreno.

 Gastos - A Prefeitura fez a dragagem dos rios e obras no entorno, e os organizadores da JMJ arcaram com os custos de terraplanagem e construção de estruturas. Os dois gastos são mantidos em sigilo (apenas são revelados os custos totais: R$ 26 milhões públicos e R$ 300 milhões da JMJ). A área é de manguezal, e, por ficar abaixo do nível do mar e próxima a um rio assoreado, sempre houve a possibilidade de grande acúmulo de água.

 Na missa deste sábado, d. Orani disse que, apesar da transferência de Guaratiba para Copacabana, a JMJ chamou a atenção para as dificuldades da periferia da zona oeste e que sugeriu ao prefeito que a área virasse um bairro popular.

 Paes aproveitou também para melhorar sua nota para a organização geral da JMJ. Se no início da semana o prefeito havia dito que "era mais perto de zero do que de dez", no domingo ele considerou que "está mais próxima de dez". "Perdemos as primeiras batalhas, mas ganhamos a guerra", afirmou. Segundo ele, "a partir de quinta-feira", tudo correu bem. O prefeito também minimizou problemas de desorganização no Metrô e de escoamento do público de Copacabana.