“Neste momento, toda a nossa equipe está concentrada na manutenção emergencial e no planejamento dos próximos passos. Mas imagino que, a partir do ano que vem, o museu comece a reabrir, gradualmente. No início, algumas alas”, adianta a diretora da instituição, Sheila Ornstein. “Vai ser interessante que os visitantes também possam acompanhar o processo de restauro.” A USP reservou R$ 21 milhões para a obra no cartão-postal paulistano tombado pelas três esferas de proteção ao patrimônio - federal, estadual e municipal.
A interdição seria só em outubro, mas foi antecipada emergencialmente após laudo apresentado pela empresa VK Arquitetura e Restauro à diretoria do museu no último dia 2. Conforme o Estado mostrou em novembro de 2012, pedaços de reboco da fachada já estavam caindo e o forro de um dos principais salões havia cedido mais de 10 centímetros. “Constatei que havia problema semelhante no forro do salão nobre (onde fica o quadro "Independência ou Morte", de Pedro Américo) e recomendei o fechamento desse espaço”, conta a arquiteta Vanessa Kraml, autora do laudo. A diretoria preferiu a cautela e interditou todo o prédio.
De lá para cá, foram reuniões e mais reuniões. No próprio domingo, a diretora Sheila conversou com o reitor da USP, João Grandino Rodas. Na segunda, debateu a questão com o superintendente de Espaço Físico da USP, Rogério Bessa. Reuniões com a vice-diretora do museu, Solange de Lima, e com a supervisora de conservação, Teresa de Paula, passaram a ser constantes. Dos 90 funcionários, 45 foram realocados em um imóvel alugado na região.
Na noite de quarta-feira, a diretoria emitiu um comunicado aos funcionários, informando da contratação “imediata” do escoramento dos forros e do serviço de estancamento da entrada de água nos telhados e claraboias. A previsão é que o acervo continue dentro do prédio. O "Independência ou Morte", com mais de 30 m², é fixado na parede e a famosa maquete da São Paulo antiga também não pode ser removida. Por isso, será contratada uma empresa especializada para proteger essas obras.
Do lado de fora, o trabalho já começou. No dia 15, a equipe do Estúdio Sarasá montou um laboratório de campo em dois contêineres nos fundos do museu. Eles devem apontar todas as patologias da fachada. Os técnicos têm até um pequeno drone (veículo aéreo não tripulado) para colher imagens da cobertura do museu.
“O problema é que este prédio precisa respirar”, diz o conservador e restaurador Antonio Sarasá. Ele refere-se a um problema decorrente da última pintura, do início dos anos 1990. A tinta usada, de látex, é inadequada, já que criou uma camada sintética. Água da chuva se acumula em falhas da pintura e os tijolos se desmancham.
Mas este não é o único problema encontrado. Sarasá adiantou ao Estado informações que devem constar em seu laudo, a ser concluído até o fim de 2013. Ele já apurou que os 50 holofotes que circundam o prédio, iluminando-o todas as noites, têm um tipo de lâmpada impróprio. “Isso está danificando a argamassa e favorecendo a proliferação de fungos.”
Após monitorar as variações de temperatura no prédio, ele também chegou a uma das causas das rachaduras: os materiais diferentes e exposições distintas ao sol fazem com que as variações de calor sejam de 26ºC a 70ºC ao mesmo tempo. “Precisamos utilizar uma argamassa flexível, que amorteça essas dilatações”, explica o químico Luiz Prado, consultor da equipe. Técnicos estão esquadrinhando todo o prédio em busca de imperfeições: as análises são feitas a cada 4 centímetros quadrados. Parte do material é estudada ali mesmo, nos laboratórios de campo.