Nem policiais militares nem agentes da Polícia Civil. Quem encontrou o aluno do Centro Universitário de Brasília (UniCeub) Felipe Dourado Paiva, 22 anos, e o devolveu à família foi um morador de rua. Adeílson Mota de Carvalho, 37 anos, reconheceu o jovem desaparecido desde o último dia 9, ganhou a confiança dele, conferiu a foto em um cartaz colocado em uma feira popular, acionou a polícia e pediu ajuda a outras pessoas para conter o estudante até a chegada dos familiares dele.
No início da noite, em casa, Priscila recebeu familiares e amigos. “Quando o vi, nossa, só queria abraçá-lo, levá-lo para casa e cuidar dele”, ressaltou a irmã. Nesse momento, o professor aposentado Ulde Dourado, tio de Felipe, estacionou o carro. Nele, estavam o sem-teto Adeílson e algumas sacolas de compras. “Vamos levá-lo para tomar um banho e fazer um lanche. A família já o adotou e vai fazer de tudo para tirá-lo das ruas. Se hoje vamos dormir em paz, devemos isso a ele”, comentou Dourado.
De poucas palavras, Adeílson disse apenas que não sabia o que aconteceria com ele. Maranhense, o ex-marceneiro chegou em Brasília há dois meses. Desempregado, veio em busca de uma vida melhor. Deixou os dois filhos, Pedro Henrique, 8 anos, e João Paulo, 6, no Pará, com a ex-mulher. Na capital, sobrevive dos trocados que ganha descarregando caminhões na Ceasa.
Felipe havia sido visto por amigos e parentes pela última vez em seu primeiro dia de aula no UniCeub, há duas semanas. Câmeras de segurança da universidade filmaram o estudante deixando o pátio da instituição de ensino. Na época, o advogado da família informou que ele sofre de transtornos psicológicos e usa remédios controlados. Sem os medicamentos, poderia ficar desorientado. Desde então, a família de Felipe distribuiu, por todo o DF, milhares de cartazes com fotos, dados do estudante e telefones de contatos. No fim de semana, fez um mutirão de buscas pela capital. Houve intensa mobilização nas redes sociais. Receberam diversas pistas falsas.
Mobilização
Pouco antes de ser localizado por Adeílson, Francisca Vanusa Lopes da Costa, 37, reconheceu Felipe por volta das 10h30, quando ele andava pela Quadra 8 do Cruzeiro Velho, onde ela mora. A dona de casa correu atrás do jovem e chegou a chamá-lo pelo nome. “Perguntei se ele era o rapaz desaparecido. Ele respondeu: ‘Será?’ E foi embora”, relatou. A mulher pediu ajuda a um vizinho, que, de moto, começou a procurar o jovem pelo bairro, sem sucesso. Sabendo disso, familiares do garoto seguiram para o Cruzeiro. Também o procuraram no Sudoeste. Mas ninguém seguiu para a Rodoferroviária, onde, àquela altura, Adeílson tinha ajudado a escrever o final feliz.