O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, voltou a defender na tarde deste sábado, em São Paulo, a legalidade das contratações de médicos cubanos por meio do Programa Mais Médicos. "O contrato que a Organização Pan-americana da Saúde (Opas) - braço da Organização Mundial da Saúde (OMS) - mantém com os médicos de Cuba é praticado em 58 outros países", disse o ministro.
Padilha, que se reuniu na tarde deste sábado com blogueiros da área da saúde, já havia feito a mesma defesa do Programa Mais Médicos no período da manhã em Brasília antes de embarcar para São Paulo. De acordo com o titular da pasta da Saúde, o contrato firmado entre o Ministério e a Opas é mais uma segurança para as ações de saúde em concordância com as legislações brasileiras e internacionais.
Ainda segundo o ministro, o Programa Mais Médicos não resolve todos os problemas de saúde do Brasil, mas colocará os profissionais nas regiões do País onde há carência destes especialistas. "Quem disser que o Mais Médicos resolve todos os problemas se engana", ressaltou Padilha. A entrevista aos blogueiros ocorreu no mesmo dia em que parte dos 4 mil médicos cubanos chegou ao Brasil. Os profissionais entraram no País em um avião que fez escala em Recife e que deve chegar a Brasília no começo da noite.
O ministro refutou algumas críticas feitas ao programa, entre as quais a de que os médicos estrangeiros enfrentarão dificuldades em desempenhar suas atividades por não falarem o português. "Eu trabalhei por anos entre os índios, salvei muitas vidas e nunca aprendi a falar sequer uma palavra indígena", disse o ministro. "Eu falo isso porque às vezes se levantam obstáculos que não fazem sentido", disse o ministro.
Médicos cubanos dizem que vieram ao Brasil para ajudar
"Somos médicos por vocação, não nos interessa um salário, fazemos por amor", afirmou Nelson Rodrigues, 45 anos. "Nossa motivação é a solidariedade", assegurou Milagros Cardenas Lopes, 61. As afirmações foram pelos primeiros médicos cubanos a desembarcarem em solo brasileiro, em entrevista, na tarde deste sábado, no Aeroporto dos Guararapes, no Recife, em resposta aos questionamentos dos jornalistas sobre a informação de que os profissionais, contratados por meio de convênio com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), só irão receber um porcentual de 25% a 40% do salário de R$ 10 mil a ser pago pelo governo brasileiro.
"Viemos para ajudar, colaborar, complementar com os médicos brasileiros", destacou Cardenas em resposta à suspeita de trabalho escravo. "O salário é suficiente", complementou Natasha Romero Sanches, 44.
Eles integram o grupo de 30 profissionais que ficaram no Recife. Saíram de Havana em um voo fretado, que trouxe os primeiros 200 médicos cubanos para trabalhar nos 701 municípios que não despertaram interesse de nenhum profissional do Programa Mais Médicos. De acordo com o representante do Ministério da Saúde, Mozart Sales, que os recebeu, este número pode chegar a quatro mil até dezembro.
Recepcionados de forma festiva, com faixas e gritos de boas vindas por vinte integrantes da União da Juventude Socialista (UJS) e da União Metropolitana de Estudantes Secundaristas (Umes), os médicos retribuíram a gentileza balançando as bandeiras do Brasil e de Cuba que traziam nas mãos. "Oh abre alas que os cubanos vão passar/ é mais saúde para a população/sejam bem vindos e a nossa gratidão" foi entoada pelos estudantes numa versão da música "Oh abre alas" de Chiquinha Gonzaga.
Na entrevista, realizada com quatro dos médicos, eles informaram que todos são especialistas em saúde da família e têm experiência de ajuda em outros países. Citaram Haiti, Venezuela, Paquistão, Guatemala e Honduras. Disseram que o curso de graduação de Medicina em Cuba é de seis anos e destacaram que lá eles têm tudo garantido - saúde e educação. "Nossas famílias estão seguras, com o necessário para viver", disse Natasha Romero Sanchez.
"Nós nos formamos com base na solidariedade e no humanismo", acrescentou ela, ao falar da alegria de estar no Brasil e poder "colaborar com o SUS". Ao seu ver, "o sistema de saúde brasileiro é desenvolvido".
Sobre a rejeição da classe médica brasileira à chegada dos estrangeiros isentos do exame para validar seus diplomas, ela destacou: "Não viemos mudar nenhum sistema social, viemos aprender com nossos colegas e poder ajudar o povo pobre com carência de atenção médica primária adequada".
Os profissionais vieram em número de 200, em voo fretado da empresa área "Cubana". Trinta ficaram em Pernambuco, vão se juntar aos outros médicos estrangeiros que estão em alojamentos do Exército e na segunda-feira (26) começam curso de treinamento de três semanas sobre a legislação sanitária brasileira e língua portuguesa.
Passo importante
Presidente estadual da UJS, Thiara Milhomem, 23 anos, afirmou que as mobilizações contrárias à vinda de profissionais estrangeiros pela classe médica brasileira "não deslegitima a vinda dos médicos". "A vinda deles não resolve o problema da saúde no Brasil, mas é um passo importante", afirmou.