Jornal Estado de Minas

Cerealista entrega o Rei do Feijão

Comerciante põe culpa em fazendeiro pela chacina de Unaí

Em troca de delação premiada, réu vira testemunha e acusa Norberto Mânica de ser o mandante dos quatro assassinatos

Maria Clara Prates
Norberto Mânica foi acusado de ter pago R$ 500 mil a dois pistoleiros - Foto: Cadu Gomes/CB/D.A Press 19/1/06 O cerealista Hugo Alves Pimenta – um dos acusados de participar da Chacina de Unaí, na qual foram mortos quatro servidores do Ministério do Trabalho, em janeiro de 2004 – disse ontem que o fazendeiro Norberto Mânica, o Rei do Feijão, foi o mandante do crime. Ele confirmou ainda a participação de Rogério Alan Rocha Rios, Erinaldo de Vasconcelos Silva e William Gomes de Miranda, que estão sendo julgados desde anteontem, como executores dos assassinatos. Pimenta, que é dono da Huma Cereais, em Unaí, foi ouvido ontem como testemunha depois de negociar uma delação premiada com o Ministério Público Federal, ainda em 2007. Ele evitou falar apenas sobre o envolvimento do outro acusado de ser mandante, o ex-prefeito da cidade Antério Mânica. Segundo Pimenta, a ordem de Norberto foi curta e grossa –“Tora! Tora todo mundo” – ao decretar a sentença de morte dos auditores fiscais que estavam em mais uma fiscalização trabalhista no município.


 

Para negociar a delação premiada, Pimenta apresentou ao Ministério Público Federal cópia de uma gravação, na qual o fazendeiro Norberto Mânica discute com ele o pagamento de um total de R$ 500 mil a Erinaldo e Rogério Alan, ainda em 2007. Eles deveriam ser pagos mesmo depois de presos para que apresentassem à Justiça a versão de que as mortes foram fruto de uma tentativa de assalto. Pimenta disse que, à época, foi cobrar os valores prometidos a Erinaldo, apontado com autor dos disparos, que receberia R$ 300 mil, e outros R$ 200 mil para Rogério. De acordo com a versão apresentada pelo cerealista, Mânica sempre teve certeza da impunidade e ao decretar as mortes desdenhou de uma possível punição. Segundo ele, o fazendeiro teria dito: “Vendo uma das minhas fazendas aqui e pulo fora. Não me faz falta e o pessoal depois vem atrás apenas de indenização. Tudo certo”.


Novidade

A revelação de Pimenta, no entanto, não trouxe novidades para Helba Soares da Silva, viúva do auditor fiscal Nelson José da Silva. Ela disse que todos de Unaí já conheciam essa versão do cerealista. Ela explicou ainda que acredita no envolvimento de Pimenta no crime. “No dia do crime, ele estava junto com outros acusados na porta da funerária. Não tenho dúvidas”, afirmou.


Maria Inês Lina de Laia, viúva do fiscal Eratóstenes de Almeida Gonçalves, também não se comoveu com a confissão. “O que quero é Justiça e condenação de todos os envolvidos”. Ao final do depoimento de Pimenta, o advogado Alaor de Almeida Castro, defensor do fazendeiro Norberto Mânica, desqualificou a versão do cerealista. “Ele contou aqui o que interessava a ele, que também é réu no processo”, argumentou. O julgamento dos três acusados de serem os pistoleiros deve se estender até amanhã.