Jornal Estado de Minas

OAB protesta contra sumiço de ossadas de guerrilheiros mortos na ditadura

Restos mortais que podem ser de guerrilheiros do Araguaia desaparecem em Brasília. Entidade denuncia descaso do Estado

Estado de Minas

 “É inaceitável.” Assim o presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Wadih Damous, classificou o desaparecimento de ossadas com indícios de serem de guerrilheiros executados pelo Exército brasileiro durante a guerrilha do Araguaia (1972 – 1974), o maior conflito entre a esquerda armada e militares durante a ditadura imposta ao país pelo golpe de 1964.

Cinco ossadas e um crânio localizados em 2001, em Xambioá (TO), desapareceram em Brasília. A suspeita é de que os ossos, que apresentavam sinais de violência, pertençam a integrantes da guerrilha do Araguaia.

Wadih Damous, que também preside a Comissão da Verdade do Rio de Janeiro, divulgou nota oficial ontem cobrando providências das autoridades. De acordo com ele, não há interesse em “passar a limpo a história da ditadura”.

A nota é enfática: “Esse episódio demonstra que existem segmentos do Estado brasileiro que não querem revelar a verdade dos fatos da guerrilha do Araguaia e de todos os outros ocorridos na ditadura militar. Não abertura dos arquivos militares, destruição impune de documentos e sumiço de ossadas não são atitudes que demonstrem estar o governo brasileiro realmente interessado em passar a limpo a história da ditadura”.

Recolhidas desde a década de 1990, as ossadas têm circulado por vários órgãos no Distrito Federal. Não raro, são transportadas em caixas de papelão próprias para biscoitos, por exemplo. Não há informação sobre o local onde o material se perdeu, pois circulou por diversos órgãos federais antes de ser armazenado em uma sala-cofre na Universidade de Brasília (UnB).

O desaparecimento consta de um relatório de novembro de 2012, assinado por quatro peritos do Instituto Nacional de Criminalística (INC). O órgão fez o inventário das 25 ossadas retiradas da região e que estão em Brasília à espera de exames de DNA.

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No Bico do Papagaio

De 1972 a 1975, 89 militantes do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e moradores da região do Bico do Papagaio, na divisa de Goiás, Pará e Tocantins, articularam movimento armado para combater a ditadura militar. A ideia era propagar a revolução socialista a partir do campo. Em 1972, o Exército mobilizou 10 mil homens para reprimir os guerrilheiros. Setenta militantes desapareceram e investiga-se se foram executados pelo Estado. Entre os sobreviventes está o deputado federal José Genoíno (PT-SP), anistiado em 1979.