“É inaceitável.” Assim o presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Wadih Damous, classificou o desaparecimento de ossadas com indícios de serem de guerrilheiros executados pelo Exército brasileiro durante a guerrilha do Araguaia (1972 – 1974), o maior conflito entre a esquerda armada e militares durante a ditadura imposta ao país pelo golpe de 1964.
Wadih Damous, que também preside a Comissão da Verdade do Rio de Janeiro, divulgou nota oficial ontem cobrando providências das autoridades. De acordo com ele, não há interesse em “passar a limpo a história da ditadura”.
A nota é enfática: “Esse episódio demonstra que existem segmentos do Estado brasileiro que não querem revelar a verdade dos fatos da guerrilha do Araguaia e de todos os outros ocorridos na ditadura militar. Não abertura dos arquivos militares, destruição impune de documentos e sumiço de ossadas não são atitudes que demonstrem estar o governo brasileiro realmente interessado em passar a limpo a história da ditadura”.
Recolhidas desde a década de 1990, as ossadas têm circulado por vários órgãos no Distrito Federal. Não raro, são transportadas em caixas de papelão próprias para biscoitos, por exemplo. Não há informação sobre o local onde o material se perdeu, pois circulou por diversos órgãos federais antes de ser armazenado em uma sala-cofre na Universidade de Brasília (UnB).
O desaparecimento consta de um relatório de novembro de 2012, assinado por quatro peritos do Instituto Nacional de Criminalística (INC). O órgão fez o inventário das 25 ossadas retiradas da região e que estão em Brasília à espera de exames de DNA.
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No Bico do Papagaio
De 1972 a 1975, 89 militantes do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e moradores da região do Bico do Papagaio, na divisa de Goiás, Pará e Tocantins, articularam movimento armado para combater a ditadura militar. A ideia era propagar a revolução socialista a partir do campo. Em 1972, o Exército mobilizou 10 mil homens para reprimir os guerrilheiros. Setenta militantes desapareceram e investiga-se se foram executados pelo Estado. Entre os sobreviventes está o deputado federal José Genoíno (PT-SP), anistiado em 1979.