O programa Mais Médicos prevê que estrangeiros e brasileiros com diploma no exterior sejam acompanhados por tutores, mas parte deles - indicados por universidades - ainda não teve contato com o programa. Alguns nem sequer foram escolhidos pelas instituições de ensino que, de acordo com o governo Dilma Rousseff, darão respaldo acadêmico ao projeto.
Em julho, uma portaria publicada pelo Ministério da Educação (MEC) abriu espaço para instituições federais aderirem ao programa e indicarem médicos para atuar como tutores - eles receberão R$ 5 mil por mês. Muitas delas, no entanto, enfrentaram disputas internas ao deliberar sobre o tema. O principal obstáculo é a não exigência da revalidação do diploma de médicos formados fora, como ocorre com qualquer outro estrangeiro que queira trabalhar no Brasil.
A exceção levou a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), por exemplo, a negar apoio ao Mais Médicos. No Estado, coube à Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) firmar a parceria, após pressão política. A adesão, no entanto, só foi aprovada definitivamente em 30 de agosto, e o médico indicado participará da primeira reunião com o MEC dia 19. Até agora, Geovani Gurgel Aciole, o profissional escolhido, ainda não foi apresentado a nenhum de seus orientandos.
Há locais em que a situação é ainda mais complicada. O conselho da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), por exemplo, nem decidiu se vai aderir ao programa. A instituição informou que discute essa possibilidade com o governo. O debate também continua na Paraíba, onde só a Federal de Cajazeiras cogita participar.
No Acre, a universidade federal não tem um professor oficializado na função de tutor. Segundo a pró-reitoria de graduação da Ufac, o nome será apresentado “em breve”. O mesmo ocorre com as Federais do Espírito Santo, Rio Grande do Norte e Pará.
Responsável pela coordenação dos tutores, o MEC afirma que nenhum médico brasileiro ou estrangeiro ficará sem receber orientação pedagógica. Quando o apoio não for dado pela universidade federal, outras instituições de ensino assumirão o papel, informa o ministério.
Exceções
Em Pernambuco, a situação é totalmente diferente. Os dois tutores escalados pela universidade federal do Estado participam do curso preparatório. Rodrigo Cariri e Paulo Santana afirmaram ao Estado que, há 20 dias, estão com os alunos oito horas por dia, cinco dias por semana, totalizando 40 horas semanais de trabalho.
O professor Valdir Francisco Odorizzi também começou a trabalhar. Ele é o tutor indicado pela Universidade Federal do Tocantins (UFT) para dar suporte aos médicos estrangeiros que vão atender no Estado. Segundo Odorizzi, já há uma sala reservada no câmpus para as aulas presenciais que quer ofertar aos futuros colegas ao menos uma vez por mês.
O orientador diz ainda que pretende formatar uma cartilha detalhada sobre a saúde no interior do Tocantins. “Em Cuba não há cobras. E o médico que for atuar no Jalapão, por exemplo, vai ter contato com acidentes envolvendo cobras. Se ele não souber tratar, a pessoa pode ter problemas graves”, afirma o professor, que faz uma ressalva: “Só vou tutorar e supervisionar médicos que tenham registro”.
Em Mato Grosso do Sul, a professora Estanislaa Petrona Yarzon Ortiz terá a responsabilidade de tutorar oito brasileiros e dois estrangeiros. “Será tranquilo. Já participei de quatro reuniões em Brasília, onde o treinamento é oferecido. Vamos organizar uma boa acolhida e acompanhar tudo de perto.”