Mil e quinhentos reais, um notebook e dez parcelas de R$ 200. Foram esses os valores cobrados por um casal ao tentar vender a própria filha, de dois anos. Os dois foram presos em flagrante, na noite de ontem, na Estação do Metrô de Jaboatão, quando entregariam a menina a Sandrine Costa Ananias, de 24 anos, de Campina Grande, na Paraíba, que fez a denúncia à polícia.
A estudante de Serviço Social viu o anúncio da criança em uma página do Facebook sobre adoção, a qual costuma entrar para fazer trabalhos científicos. Sandrine Costa estranhou a oferta na rede social e começou a conversar com a mãe, a manicure T.B.P., de 23 anos. Ofereceu-lhe ajuda no valor de R$ 200 para que ela não vendesse a menina. A postagem foi feita na última sexta-feira. A mãe ainda tentou negociar com pessoas de Goiás e do Espírito Santo, além da Paraíba.
“Falei com ela na própria sexta e, no domingo, ela voltou a falar comigo querendo fechar negócio. Afirmou que um casal teria ofertado R$ 5 mil. Eu disse que não tinha esse valor. Ofereci R$ 1,5 mil, um notebook e inventei que pagaria o restante em dez vezes de R$ 200. Ela aceitou. Então procurei o Ministério Público e a Polícia Civil da Paraíba para denunciar”, contou Sandrine.
Denúncia feita, a Polícia Civil da Paraíba procurou a Polícia Civil de Pernambuco, porque o casal, apesar de ser do Rio de Janeiro, mora no Recife. De acordo com uma das delegadas paraibanas responsáveis pelo caso, Nercília Dantas Quirino, da Delegacia da Infância e Juventude, a mãe da garota falou que queria dinheiro para se prostituir na Europa. “Mas não sabemos se isso procede. Percebemos a ânsia dela de se livrar da criança e ganhar dinheiro”.
Segundo a polícia, o pai da menina, o mototaxista P.R.A.F., de 41 anos, não participou das negociações. Mas ele foi entregar a criança no metrô. Questionado sobre a razão de ter deixado a mulher vender a filha, afirmou que só falaria em juízo.
Outros crimes
O delegado Geraldo da Costa, da GPCA, disse que a Polícia Civil de Pernambuco vai investigar se o casal preso em flagrante vendendo a filha, ontem, responde por outros crimes no Rio de Janeiro. Até a noite de ontem, os dois permaneciam presos na GPCA e só responderiam ao processo em liberdade se pagassem fiança (valor não informado). Caso não tivessem o dinheiro, seriam enviados ao Cotel, em Abreu e Lima, e à Colônia Penal Feminina do Recife.
De acordo com Costa, eles responderão pelo crime de entrega de filho mediante pagamento ou recompensa. A dupla poderá pegar até quatro anos de reclusão. A criança vai ser entregue ao Conselho Tutelar de Jaboatão dos Guararapes.
“Também será averiguado se eles são, de fato, pais biológicos da menina, porque a frieza deles em relação a ela é grande. Não demonstram nenhum amor”, afirmou Geraldo. De acordo com ele, a mãe não chorou em nenhum instante, “só quando soube que seria presa”, contou.
No momento da prisão, a delegada Nercília Dantas Quirino disse que a garota parecia apática. “Ela não chorava nem sorria. Depois que chegou à GPCA, passou a demonstrar algumas expressões”, relatou.
A outra delegada responsável pelo caso, Alba Tânia Abrantes Casimiro, da Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Infância, contou que o casal tem mais uma filha, de cinco anos, e o pai das duas meninas tem outra filha, com outra mulher.
Inquérito
No dia 27 de agosto, o Ministério Público recebeu denúncia da Polícia Civil, que concluiu inquérito contra uma universitária de 19 anos, que tentou negociar seu bebê por R$ 50 mil também pelo Facebook. A menina, nascida após apenas seis meses de gestação, morreu no Memorial São José antes que a mãe conseguisse concluir a venda. A estudante foi denunciada no artigo 238, do Estatuto da Criança e do Adolescente, que proíbe entrega ou promessa de crianças e pode ser condenada de um a quatro anos de reclusão, além de multa.
Histórico
O Ministério Público de Pernambuco recebeu, no último dia 27, a denúncia da Polícia Civil, que concluiu inquérito contra uma universitária de 19 anos, que tentou negociar um bebê por R$ 50 mil pelo Facebook. A menina, nascida após apenas seis meses de gestação, morreu no Memorial São José antes que a mãe, do bairro de Casa Amarela, conseguisse concluir a venda. A estudante foi denunciada no artigo 238, do Estatuto da Criança e do Adolescente, que proibe entrega ou promessa de crianças e pode ser condenada de um a quatro anos de reclusão, além de multa.
A baiana Fabiana Sarchi Cavalcanti, 31 anos, que não pode ter filhos de forma natural e integra o Cadastro Nacional de Adoção, denunciou o caso após entrar em contato com a mãe que queria vender o bebê. Confira abaixo matéria da TV Clube sobre o caso:
Mesmo depois da polêmica gerada pela investigação, que repercutiu em todo o país, ainda havia quem se arriscasse a negociar, pela web, a entrega do próprio filho. Era o caso da recifense Alice (nome fictício), 22 anos, autora de um dos anúncios de crianças na rede social. Suposta mãe de dois filhos, um de cinco anos e outro de sete meses, ela estaria grávida e disposta a doar o filho a quem o garantisse “melhores condições de vida”. “E quero que o casal se responsabilize pelas despesas que vou ter no lugar que vou ficar”, postou publicamente a garota, cujos pais supostamente não saberiam da gestação de quatro meses, motivo pelo qual ela gostaria de ficar escondida até o nascimento. Para provar a gravidez, enviou uma foto. Por telefone, conversamos com a jovem, que garantiu não saber das investigações nem que havia algo de errado em sua conduta.
O escândalo de adoções ilegais foi investigado pela Polícia Civil com apoio da Justiça. Por meio de uma página do Recife, um bebê poderia ser adquirido por preços entre R$ 6 mil e R$ 10 mil.