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Testemunha pode ser peça-chave para desvendar sequestro de menino feito pelo ExércitoOssadas que podem ser de guerrilheiros do Araguaia seguem cercadas de mistérioSargento do Exército teria pressionado mãe de menino raptado para entregar filhoFamília de menino raptado pelo Exército no Araguaia ficou marcada para sempreSeis anos depois de Miraci ser levado, a família conseguiu juntar dinheiro para comprar a passagem para ir a Fortaleza atrás do menino. A encarregada por dona Maria de buscar Miraci foi a filha mais velha, Maria Edileuza da Silva Rodrigues, 57 anos, hoje formada em pedagogia. Com a ajuda de amigos na capital cearense, Edileuza chegou ao quartel. Não conseguiu passar da guarita da entrada. Depois de esperar do lado de fora foi informada pelo soldado que tomava conta da portaria que o sargento tinha sido transferido para Natal, no Rio Grande do Norte. Sem dinheiro para seguir adiante, voltou, arrasada, para São Geraldo. “Tinha muita esperança de encontrar o ‘pequeninho’”, conta chorando. Para ela, a família foi muito ingênua quando resolveu viajar 1.350km, ainda durante a ditadura militar, com pouco dinheiro no bolso e menos informação ainda sobre o paradeiro do sargento Lima e de Miraci.
Em 2007, ainda esperançosa de rever o filho, dona Maria soube de uma reunião de torturados da guerrilha que aconteceria na Câmara Municipal de São Domingos do Araguaia, cidade a 100km de São Geraldo, e foi para lá. Diante de deputados e representantes do governo, contou sua história em detalhes na esperança de que algum agente do Estado ajudasse a localizar o paradeiro do sargento Lima. Até hoje nada. Um processo de indenização no Ministério da Justiça foi aberto em janeiro de 2010 em nome de dona Maria e continua parado no setor de protocolo e diligência. Quatro parágrafos de um livro editado pela Secretaria Nacional de Direitos Humanos sobre a violência sofrida por crianças e adolescentes durante o regime militar são dedicados à história de Maria Bezerra e o sumiço de Miraci. Mas, segundo ela, ninguém nunca foi atrás das pistas que podem levar ao paradeiro dele.
Por meio de sua assessoria de comunicação, o Exército disse que vai tentar confirmar a existência em seus quadros do sargento João Lima. No entanto, é preciso alguns dias, pois o banco de dados não é informatizado e é preciso acionar o setor administrativo da corporação no Ceará.
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A guerrilha
Araguaia é o nome do segundo maior rio do Brasil, que corta os estados do Pará, Tocantins, Goiás e Mato Grosso. Ele também batiza o movimento de resistência ao regime militar que se instalou na região do rio, que marca a divisa entre Tocantins e Pará, conhecida como Bico do Papagaio, entre Xambioá (TO) e São Geraldo do Araguaia (PA). Os guerrilheiros, todos militantes do Partido Comunista, chegaram ao Araguaia em 1967 e passaram a viver embrenhados na mata ao lado de camponeses locais, treinando táticas de guerrilha e prestando serviços para a comunidade. Em 1971, o foco de resistência foi descoberto pelo Exército, que enviou 2,5 mil soldados à região para caçar os militantes. A guerra, como os moradores se referem ao episódio, terminou no início de 1975, quando os últimos líderes do movimento foram mortos.