O jovem médico cirurgião venezuelano Álvaro Cardona, de 29 anos, é um dos 13 intercambistas do Programa Mais Médicos que aguardam, na capital paulista, o registro provisório do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) para começar a trabalhar. Apenas três brasileiros integrantes do programa, que se formaram no Brasil, estão atuando desde o começo de setembro, dois em unidades da zona sul (Paraisópolis 2 e Waldomiro Pregnolatto) e um no Jardim Icaraí, na zona norte.
Álvaro disse estar ansioso para iniciar o trabalho na Unidade Básica de Saúde (UBS) onde irá atuar, na Vila Pirituba, zona norte. Por enquanto, ele passa por uma capacitação, que teve início para todos os médicos em 26 de agosto, com a equipe médica e de enfermagem da UBS. “O mais importante é que a gente não veio tapar um buraco, nós viemos somar com os médicos que estão trabalhando aqui. Não vim ocupar um posto de trabalho, vim compartilhar conhecimentos. Eu creio que tem que promover essa troca de conhecimentos entre os profissionais de saúde deste país e médicos estrangeiros”, disse.
A unidade, que faz 500 atendimentos por dia e realiza 100 consultas, em média, tem cinco médicos trabalhando, sem contar com Álvaro. Durante um ano e meio, a unidade esteve com três vagas abertas para médicos, que não despertaram interesse de nenhum profissional. “Os médicos estão mais voltados para o atendimento particular, aqui eles não ganham status”, disse Vera Sales Bueno, gerente da UBS.
A situação da unidade não é, aparentemente, tão precária quanto a da comunidade onde Álvaro trabalhou antes de vir para o Brasil. Durante a fase chamada por ele como rural, o médico atendeu por um ano na periferia venezuelana. Lá recebia desde pacientes feridos por tiros a gestantes em trabalho de parto. “Nós falávamos com o prefeito para levar medicação até lá”, contou.
Tímido, Álvaro disse que já concedeu oito entrevistas, cinco apenas no dia em que chegou ao Brasil. De São Paulo, ele gostou dos parques Ibirapuera e Villa-Lobos, mas não gostou do trânsito. Ele pretende trazer os pais para viver aqui e pensa em permanecer no país, mesmo depois do término do contrato do Mais Médicos. No Brasil, Álvaro vai ainda cursar pós-graduação em medicina familiar, como parte do programa.
A população do bairro mostrou simpatia à chegada do médico estrangeiro. “Eu sou a favor, porque quanto mais melhorar a saúde, melhor. A população tem aumentado cada vez mais aqui”, disse Mariano Francisco de Oliveira, aposentado, de 73 anos, que utiliza a unidade da Vila Pirituba há 10 anos.
Márcia Aparecida da Costa, 31 anos, dona de casa, também usa a unidade há 10 anos. Ela reclama da falta de pediatras para atendar sua filha. “Podiam vir mais pediatras para cá, porque está precisando. Tem só um aqui”, disse. Já Inês Cândido de Souza, 47 anos, comerciante, utiliza a unidade desde criança. Ela é favorável à atuação do venezuelano. “Os médicos brasileiros não estão dando importância para saúde”, criticou. Inês avalia que o posto tem recebido bem a população, mas acha que os médicos responsáveis pelo atendimento estão sobrecarregados de trabalho.
De acordo com a prefeitura, foram solicitados 158 médicos para a cidade. Dos 16 que já estão no município, sete escolheram unidades na zona norte, três na zona leste e seis na zona sul. Entre os intercambistas, quatro são bolivianos formados em Cuba, um é argentino formado em seu país e outro é português também formado em seu país.
Entre os 13 intercambistas que aguardam o registro provisório do Cremesp há seis brasileiros – quatro formados na Argentina, um na Rússia e outro na Espanha. De acordo com a instituição, a documentação apresentada por todos os intercambistas do estado tinham inconsistências, como falta de tradução do diploma, falta de declaração de conhecimento da língua portuguesa e falta de prova do exercício da profissão no país de origem.
O Ministério da Saúde informou que já protocolou respostas aos questionamentos do conselho. O ministério considerou que o Cremesp fez alegações genéricas e não explicitou o motivo das desconformidades.