Jornal Estado de Minas

Ser do bem faz bem: Mineiras criam rede coletiva de voluntários

A proposta do "Voluntário Coletivo" é articular profissionais de várias áreas que querem ajudar instituições filantrópicas na sua área de atuação, mas que não sabem por onde começar

Tábita Martins
- Foto: Carol Nogueira/Divulgação
Conhecer a dura realidade do Lar Teresa de Jesus - instituição que presta apoio a pacientes oncológicos-, abriu as janelas do coração da Relações Públicas, Nathália Simões, de 27 anos e das amigas Ana Possas, de 29 anos e Bruna Chaves, de 23.

A experiência com a instituição, mostrou a carência de profissionais especializados no terceiro setor. "Foi pensando nisso que idealizamos a rede Voluntário Coletivo. Afinal, muita gente já pensou em ser voluntário em alguma causa, mas às vezes essa vontade vai ficando em segundo plano, principalmente pela dificuldade em encontrar uma atividade e local onde se possa ser útil", destaca Nathália.

A ideia é proporcionar um ponto de encontro entre voluntários e organizações que precisam desses profissionais e que não têm condições de pagar. Assim por meio de um banco de dados essa conexão é feita e o trabalho é realizado. Em três meses de lançamento da página no Facebook já tem mais de 700 pessoas interessadas em participar. Vale ressaltar que a divulgação foi feita de forma viral.

"A princípio, divulgamos as oportunidades de voluntariado em nossa fanpage e aguardamos os contatos das pessoas. Nessa semana lançamos uma landing page www.voluntario coletivo.com na qual os interessados poderão fazer o próprio cadastro de suas habilidades. Ao mesmo tempo, as instituições filantrópicas poderão relatar suas principais necessidades.
O cadastro de voluntários e suas habilidades será estudado junto ao cadastro de necessidades das instituições para realizarmos essa intermediação da melhor maneira possível", aponta a jovem.

As mineiras estão tentando criar um modelo de negócios colaborativo, em cocriação com algumas pessoas que têm ajudado a transformar a ideia inicial em projeto. Por isso, Nathália faz questão de dizer que o Voluntário Coletivo ainda está em processo de formatação.

A fotógrafa Carol Nogueira está encantanda com a iniciativa. Ela foi uma das primeiras pessoas a se candidatar às vagas. "Sempre que possível, tento ser voluntária de projetos sociais. Isso é uma coisa minha, pois desde nova vejo minha mãe participando de campanhas e fazendo doações a instituições que precisam. Cresci com a mentalidade de que eu preciso ajudar sempre", conta.

Carol Nogueira é fotógrafa e voluntária - Foto: Carol conheceu a rede Voluntário Coletivo por meio do Facebook. "Apareceu nas minhas atualizações que um amigo tinha curtido a página, curiosa, fui ver do que se tratava. Logo de cara, vi um post procurando fotógrafo voluntário. Não pensei duas vezes e me candidatei e a experiência foi linda. Foi a primeira vez que consegui conciliar a minha fotografia com um trabalho social e sem dúvida, a experiência tem sido gratificante até hoje. Me apaixonei pela iniciativa do VC e pelo Lar Teresa de Jesus, onde realizei o primeiro trabalho, afirma.

A fotógrafa diz que ao ser voluntária se sente útil, ativa fazendo algo bom e que vai além dos seus interesses pessoais. "É uma sensação ótima, como se eu retribuísse pro mundo um pouco das coisas boas que sempre me aconteceram", finaliza.

As idealizadoras do projeto também estão cheias de planos para devolver o bem aos voluntários. Segundo Nathália, a ideia é divulgar o trabalho deles na página do grupo e também por meio de um blog. No futuro, as postagens poderão se transformar em um livro.

Essa forma de incentivar a participação nem precisava estar nos planos, já que segundo o livro "The Healing Power of Doing Good" escrito pelo americano Allan Luks e ex-diretor do "Instituto para o Avanço da Saúde de Nova York", as pessoas são naturalmente motivadas a buscar esse tipo de ação, já que as atividades voluntárias trazem sensação de bem estar e ainda contribuem para melhoria da saúde física, mental e emocional.

Ser voluntário faz bem para a saúde
Allan Luks reuniu diversos estudos sobre os benefícios provocados pelo altruísmo e percebeu uma clara relação de causa e efeito entre ajudar os outros e ter boa saúde. Ele também concluiu que há um aumento da sensação de bem-estar durante a realização de ações filantrópicas e, conseqüentemente, uma redução nos níveis de estresse e maior equilíbrio emocional.

Segundo o pesquisador, ajudar os outros contribui para a manutenção da boa saúde e podem diminuir o efeito de doenças e distúrbios psicológicos e físicos leves e graves. Além disso, a onda de euforia após a realização de um ato de bondade contribui com a liberação de analgésicos naturais e endorfinas, provocando longo período de calma e melhoria do bem-estar emocional.

Problemas de saúde relacionados com o stress também podem melhorar significativamente após a realização de atos gentis. Ele observou ainda que ajudar os outros inverte sentimentos de depressão, aumenta as fontes de contato social, reduz os sentimentos de hostilidade e isolamento (que podem causar aumento de peso e úlceras), diminui a constrição dos pulmões e ataques de asma.


Fazer o bem ainda aumenta o sentimento de auto-estima, aumenta a sensação de felicidade e otimismo, minimiza o sentimento de desamparo e fortalece o sistema imunológico.

Projeto pretende articular interessados - Foto: Dados no Brasil

Em 2006, pela primeira vez, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) realizou um levantamento de dados sobre o terceiro setor. A pesquisa foi desenvolvida a partir dos dados contidos no Cadastro Central de Empresas (Cempre) do IBGE, onde foram identificadas as entidades relacionadas no grupo Assistência Social.

Foram entrevistadas 16.089 entidades que prestavam os serviços abrangidos pela política pública. Desse universo, foi mostrada uma participação oficial de 1,4% na formação do Produto Interno Bruto Brasileiro (PIB), o que significa um montante de aproximadamente 32 bilhões de reais. O terceiro setor é caracterizado pelas organizações sem fins lucrativos de origem privada. Isto é, ongs, sindicatos, fundações, dentre outras.

O levantamento indicou também que das16.089 entidades de assistência social, 51,8% se concentram no Sudeste, sobretudo São Paulo e Minas Gerais, seguida pela Sul (22,6%), Nordeste (14,8%), Centro-Oeste (7,4%) e Norte (3,4%). Indicando também que 32,6% das entidades têm nos recursos públicos a principal fonte de financiamento e que mais da metade das instituições direciona seu atendimento aos jovens.

Outro dado apontado é de que mais da metade dos ocupados em assistência social faz trabalho voluntário Das 519.152 pessoas que atuavam nas entidades de assistência social, 277.301 (53,4%) eram voluntários. Desses, 126.431 (45,5%) tinham nível médio, enquanto 76.409 (27,5%) tinham somente nível fundamental e número muito semelhante (74.461 ou 26,8%) tinha formação superior. Dos não-voluntários (241.851 pessoas), 166.711 tinham vínculo empregatício com a entidade, 22.942 eram prestadores de serviços, 37.702, cedidos de outras empresas e 14.496 eram estagiários, remunerados ou não.

Conheça o projeto "Voluntário Coletivo":