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Filippi Júnior apresentou aos médicos estrangeiros o Brasil como "talvez o País mais desigual do mundo", apesar dos avanços dos últimos anos, e fez brincadeira com as críticas de que os profissionais que falam espanhol não entenderão o que os pacientes dizem. "Tem brasileiro mesmo que mora aqui no centro e que se for para a periferia não entende o que o povo está falando, principalmente os jovens", declarou, em referência às gírias.
Ele ainda destacou que a vinda de profissionais de saúde de Cuba ajudará na autoafirmação dos brasileiros. "Essa vai ser outra contribuição que, tenho certeza, vocês vão trazer para a visibilidade política e social do povo brasileiro. Nós temos médicos negros, mas muito poucos", disse. Segundo Filippi Júnior, só cerca de 1% dos 13 mil médicos do sistema de saúde paulistano são negros. Muitos dos médicos vindos de Cuba são negros.
"Vocês vão ver que o povo brasileiro afrodescendente é o que mais tem de ser resgatado de nossa dívida social, de nossa dívida de ser humano", disse, referindo-se ao legado dos séculos de escravidão no Brasil. O secretário municipal de Saúde de São Paulo também falou sobre o Sistema Único de Saúde (SUS).
"O SUS vem avançando muito nos últimos 18, 20 anos. Principalmente, nos últimos nove anos, o SUS vem crescendo ano a ano em termos de receita, em recursos que se colocam na saúde." Conforme Filipi Júnior, no entanto, a rede ainda é insuficiente. "Nós precisamos aumentar, eu acho, em praticamente 60% os recursos."
Em 2012, foram investidos R$ 180 bilhões no sistema, de acordo com o secretário municipal de Saúde. "Precisamos passar de R$ 300 bilhões, mas isso não se faz da noite para o dia." Os médicos do programa têm contrato de três anos, período pelo qual devem ficar no Brasil. O primeiro grupo de profissionais estrangeiros no município chegou em setembro e incluía argentinos e bolivianos.
Adaptação
Uma das médicas cubanas que foram apresentadas nesta sexta-feira é Taomara Iser, de 51 anos, que trabalhava havia 27 em Havana. Taomara deixou seis sobrinhos, com os quais conversa diariamente pela internet, para vir atender pacientes na periferia de São Paulo - trabalhará numa UBS da zona norte. É a primeira vez dela no Brasil.
Quando saiu de Cuba a convite da administração federal, achava que fosse trabalhar na região da Amazônia. Só descobriu que, na verdade, iria para a capital paulista depois de chegar ao País. Na análise dela, não é preciso ter coragem para deixar "tudo" para trás e começar do zero num lugar desconhecido. "É preciso, sim, ter sentimento humanitário e um sonho."
Taomara se disse impressionada com o tamanho da capital, que chamou de "bonita", e afirmou que em pouco menos de um mês de estadia notou uma semelhança entre os paulistanos e os cubanos: "São todos muito carinhosos". Na fase de adaptação, a médica cubana aprendeu um pouco de português e entende bem o que os interlocutores dizem. "Desde que não falem muito rápido", brinca.