Jornal Estado de Minas

Reverenciar entes queridos depois da morte é tradição de várias religiões

Acender velas é uma tradição mantidas pelos católicos no dia de finados nos cemitérios, mas outros grupos religiosos também mantêm tradições

O Imparcial
- Foto: Karlos Geromy/ O Impacial DA PressReverência, lembrança, sentimento a quem não está mais entre nós. O Dia de Finados é feriado nacional comumente celebrado pelos católicos para lembrar os que se foram. O ato de visitar os cemitérios para deixar flores ou acender velas por seus mortos é o mais praticado no catolicismo. As demais congregações também lembram a data com rituais bem específicos. Algumas optam por orações, reunião em grupos e até individualmente, internalizando o sentimento à pessoa querida. O importante nesse momento não é o ritual ou a forma, mas a lembrança, que, independente da fé professada, habita todo ser humano. E para lembrar, as congregações organizam sua celebração.
Para os católicos, a morte não é o fim, mas a esperança de uma vida futura, baseada na ressurreição de Jesus. Os católicos não dispensam a visita às sepulturas e planejam o ato com a preparação destes espaços. Rezar e acender velas é comum, mas não é o mais importante, afirma o padre Josemar Pinheiro, da paróquia São Paulo Apóstolo, Renascença II. “É preciso realizar a missa. Este é o sacrifício principal em intenção dos falecidos, para que tenham seus pecados aliviados”, disse o padre. A celebração aos mortos é propagada na religião desde o século XIV. Na data, além das igrejas, há as programações nos cemitérios. Este ano, arquidiocese não fará atividade, mas, as paróquias terão missas durante todo o dia.

Nas congregações evangélicas a data é considerada um dia normal, segundo o pastor da Assembleia de Deus Missões, do Anjo da Guarda, Melkisedec Sousa Abreu. Não há o hábito de ir ao cemitério, acender velas ou fazer interseções. A forma de cultuar o falecido é lembrar como a pessoa foi em vida. Com a morte, o espírito retorna a Deus, a alma vai aguardar para o juízo final podendo ou não viver com Cristo. “Não há um ritual específico. Todo dia é dia de lembrar o ente”, pontua. A cerimônia fúnebre – velório e enterro - é realizada normalmente. Na data, a igreja vai evangelizar nas congregações e também nos cemitérios, com distribuição de panfletos.

Neto de Azile afirmou que casas de cultos afro louvam seus ancestrais - Foto: Arquivo PessoalAncestralidade e renovação

Nas religiões afro-brasileiras, o Dia de Finados tem relação com a ancestralidade. Não há crença na reencarnação, mas a ideia de passagem para outro plano, representando a volta às origens ancestrais no continente africano. Neste dia, as casas de culto fazem ritual de louvação e invocação dos ancestrais fundadores do culto e a força denominada ‘axé’ é renovada. “É um dia alegria, de reencontro com os entes queridos por meio de rituais específicos de louvação aos ancestrais”, explica o representante do Fórum de Religiões Afro do Maranhão e do Tambor de Mina, Neto de Azile. Em comemoração à data, as casas de culto realizam programação fechada às 6h, 12h, 18h e 00h. “São considerados horários em que as portas ancestrais são abertas para relação do iniciado com sua ancestralidade”, ressalta.

A congregação Seicho No Ie acredita na vida eterna e não há morte, pois a matéria – o corpo em si – não existe. “Assim como o bicho da seda se aloja no casulo, o espírito se aloja no corpo carnal. Acreditamos no espírito eterno, indestrutível e imortal”, explica a divulgadora da organização, no Maranhão Novo, Telma Helena Silva. A data é comemorada com culto aos antepassados que fazem parte da chamada árvore genealógica – família e os que desencarnam. Para a organização, cuidar das sepulturas é um ato de gratidão aos que por aqui passaram. “Mas não oramos nas sepulturas, pois, para nós, não há nada ali. Os cultos aos que desencarnam são realizados na sede regional por grupos, e diariamente pelos integrantes em seus lares. Nesta data ocorre o Culto aos Antepassados, às 9h e 15h, na Regional Maranhão Novo. É preenchido um formulário com sobrenome do familiar e feita a leitura do livro sagrado.

Sentimento interno

A perda que poderia se materializar em uma eterna dor deu lugar a um sentimento de gratidão, admiração e esperança. Foi essa forma que o líder de projetos, Régis Gund, 40 anos, encontrou para lembrar do pai, Helmut Gund, falecido há dois meses, aos 75 anos. Não só por ser Finados, como faz questão de frisar, Régis lembra do pai todos os dias, indos aos lugares que frequentavam juntos e que ele tanto gostava, como as praias. Seu desejo manifestado ao filho era de que fosse cremado e parte das cinzas depositadas no mar. Assim foi.

Além de se confortar com essa forma de lembrança, Régis mantém viva a memória do pai com dores mais brandas e uma alegria crescente. “Relembro meu pai pelos momentos bons que tivemos. Essa ideia de túmulo e lápide não traz uma memória boa. Prefiro lembrá-lo nos lugares em que ele se sentiu feliz”, conta. O próprio pai dizia que, ao chegar o momento, não queria ver ninguém triste ou apegado a construções de concreto. “Ele sempre quis que relembrássemos os momentos bons ao lado dele. Em vez de ir ao cemitério ou se agarrar a algo material, para irmos à praia e lembrar dele sorrindo”, disse. Hoje, Régis irá, mais uma vez, caminhar na praia na companhia espiritual de seu querido pai.

Rituais


No Islamismo, o corpo deve ser lembrado com boas palavras e deve-se solidarizar com seus familiares e amigos; é feita oração em grupo, explica o presidente e chefe missionário da Associação Ahmadia do Islã no Brasil, Wasim Ahmad Zafar. O judaísmo não comemora a data. Para eles, dos que morreram fica somente a lembrança. Mas, vão ao cemitério uma vez ao ano, próximo do ano novo judaico, celebrado em setembro, para depositar pedras nos túmulos, que para eles, ‘não murcham como as flores’. Os espíritas creem que após a morte do corpo físico, o espírito se liberta, tornando-se verdadeiramente vivo. A religião prega as orações para os desencarnados em qualquer dia do ano, não só no Finados.

Os hindus comemoram os mortos em plena fase da colheita, como a festa principal do período. No Budismo, quem morre no mundo material, nasce para o mundo espiritual. No Dia de Finados, os budistas voltam à terra natal e reveem seus familiares e amigos, levando aos túmulos dos antepassados incensos, frutas e flores. Eles são lembrados com orações no fim do Ramadã (mês sagrado) e no Dia do Sacrifício (fim do período de peregrinação à Meca). Os Adventistas não comemoram a data e a consideram anti-bíblica. Segundo eles, não se deve orar pelos mortos porque a Bíblia diz que, depois da morte, segue-se o juízo.