Quem caminha por Brasília encontra poesia estampada em locais inimagináveis. Os versos deixaram os livros e estão nas paradas de ônibus, nas passagens subterrâneas, nos postes, em meio-fios, nas calçadas, nas caçambas de lixo e em tapumes de obras. Basta um olhar atento para encontrar. No entanto, muitas vezes, as mensagens sem assinatura não encontram destinatário. Passam despercebidas na correria da cidade.
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Policial escreve relatório em forma de poesia no DFHospital particular nega atendimento para PM em BrasÃliaConterrâneo de Rita, o funcionário público André Lopes, 27 anos, também se encantou. “A vida é tão corrida. Nós nos esquecemos de dizer o que sentimos. De falar ‘Eu te amo’. Mensagens assim, no meio da cidade, são muito bacanas. A gente olha e pensa. A poesia alcança a gente no meio da correria e nos faz refletir”, garante. O radialista Luiz Polesi, 53 anos, também notou o cartaz. “Achei muito bacana. Poesia é sempre bom. Não acho nota 10, acho nota 11”, afirmou. Polesi, que mora da cidade paulista de Taquaritinga, acredita que os poemas são uma intervenção diferente e atraem a atenção das pessoas. “É bonito. Deixa a cidade mais bonita. Não é como os rabiscos que ninguém entende”, ressalta, referindo-se às pichações.
A poesia de parede é comum nas grandes cidades de todo o mundo. Os versos são curtos e objetivos. Temas simples da vida são abordados sem profundidade, mas sem perder a dose de reflexão inerente à poesia em geral. Para muitos artistas, as intervenções são uma reação às propagandas que bombardeiam quem passa pelos grandes centros urbanos. Em Brasília, os versos ganham particularidades. Falam da solidão, do concreto, das ruas sem esquinas. A maioria dos poemas não é assinada. Os grupos de arte urbana disponibilizam os versos para download, como o brasiliense Coletivo Transverso. É uma arte que pode ser feita por todos e tem todos como público.