A Construtora Odebrecht informou nessa quinta-feira em nota, que “não houve nenhum alerta prévio ao acidente” no estádio do Corinthians, que resultou na morte de dois operários. Na manhã de hoje, o deputado estadual e presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil (Sintracon-SP), Antonio de Sousa Ramalho, disse que um técnico de segurança da obra alertou o engenheiro do setor sobre problemas no guindaste, usado para içar o último módulo da cobertura do estádio, e que acabou caindo e danificando parte da obra.
“O que o técnico [de segurança] me disse é que às 8h chamou o engenheiro de segurança, que concordou com ele que estava inseguro e que havia sinais de que aquela torre [grua] poderia tombar”, acrescentou Ramalho. Mas, segundo o deputado, o engenheiro de produção disse que “estava 100% seguro e que não havia risco algum”.
A peça que seria instalada no estádio pesava cerca de 420 toneladas. Já o guindaste usado tratava-se de uma torre de 114 metros, o maior em operação no Brasil e, segundo o ex-presidente do Corinthians e responsável pela obra, Andrés Sanchez, suportava até 1,5 mil toneladas.
“No momento da operação do guindaste, a área de ação estava isolada, seguindo os procedimentos padrões de segurança, e só os trabalhadores que participavam do trabalho específico tinham permissão para permanecer no local. Essa equipe era composta por 28 trabalhadores, todos eles treinados para procedimentos de emergência, o que com certeza contribuiu para evitar que o acidente tivesse maiores proporções”, informou a Odebrecht, em nota.
Ainda no comunicado, a construtora disse que o sindicato presidido por Ramalho não representa os trabalhadores que fazem as operações de movimentação do guindaste e colocação da estrutura metálica. “Esses trabalhadores são representados pelo Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Pesada, Infraestrutura e Afins do Estado de São Paulo [Sintrapav SP]”. A informação foi confirmada à Agência Brasil pelo Sintrapav.
Representantes do Sintrapav, do Ministério Público de São Paulo, do Ministério do Trabalho, do Instituto de Criminalística e da Defesa Civil vistoriaram hoje a obra do Itaquerão, como é conhecido o estádio.
O diretor do Sintrapav, Sérgio Pereira Lima, negou ter conhecimento sobre qualquer alerta feito por operários. “Nós, do sindicato, não tivemos nenhuma informação nem denúncia de irregularidade desse guindaste”, disse.
Lima informou ainda que todos os equipamentos e máquinas utilizados na obra, incluindo os guindastes, vão ficar parados por prazo indeterminado.
Na avaliação do diretor, ainda é cedo para se determinar as causas do acidente. “É muito cedo para falar alguma coisa até que a perícia tenha algo definido. Acompanhamos o Ministério Público e o Ministério do Trabalho lá dentro. Mas é muito cedo para falar se foi um erro humano ou um erro mecânico até porque o guindaste está todo detonado. Esse já não se usa mais”, disse à Agência Brasil.
“Essa era a última peça [que seria instalada]. As outras três, da ponta, tinham o mesmo peso, o mesmo tamanho. Foram feitas da mesma forma e não aconteceu nada. É a perícia que vai falar o que realmente ocorreu”, acrescentou. Segundo ele, 37 peças, semelhantes à que caiu, foram instaladas no estádio, sem que fossem detectados problemas.
Na próxima semana, segundo Lima, representantes da Odebrecht, dos sindicatos e do Ministério do Trabalho vão se reunir para discutir o acidente. Em nota à imprensa, divulgada ontem, o Ministério Público do Trabalho em São Paulo informou que as últimas inspeções técnicas “não constataram a existência de irregularidades cuja gravidade pudessem comprometer a segurança e saúde dos trabalhadores”.
Após nova vistoria na manhã de nessa quinta-feira, a Defesa Civil manteve a interdição da área afetada pela queda do guindaste na obra do estádio, que será palco da abertura da Copa do Mundo de 2014.
As causas do acidente estão sendo apuradas pela Polícia Técnico Científica, que tem prazo de 30 dias para apresentar o laudo.