O futuro prometia ser cruel para Cassio dos Santos, 33, quando ele fugiu de casa aos 6 anos. Ainda criança, optou por deixar a mãe e os três irmãos, sem um documento ou a promessa de uma vida melhor. Durante 19 anos, morou sozinho na Rodoviária do Plano Piloto. Não tinha emprego, nome ou data de nascimento. Nem recebia o benefício ao qual tem direito, a aposentadoria pelo Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) devido a uma deficiência na fala. A única maneira de conseguir dinheiro era vigiando os carros no Conjunto Nacional.
A mudança começou no fim da adolescência. Em 1999, Cassio encontrou a Promotoria de Justiça de Defesa da Infância e da Juventude. Com a ajuda dos funcionários do órgão, descobriu que o primeiro passo para tornar-se um cidadão era sair do anonimato. O grupo reuniu esforços para tirar a Carteira de Identidade e o Título Eleitora do jovem. Providenciou ainda um exame de idade óssea a fim de revelar sua idade. O resultado indicava o nascimento no fim de 1980. A data escolhida, 18 de dezembro.
A assessora Consuelo Vidal é uma das servidoras da promotoria que acompanhou o processo e conta que nem tudo foi fácil. “Na hora de tirar o título, nos disseram que ele não podia porque não tinha o nome do pai e da mãe. Fiquei revoltada e falei: ‘Você acha que é porque ele quer? E se fosse com você?’ Pediram desculpa e emitiram. Ele também tem o passe livre para ônibus, até o interestadual. Incentivei-o a viajar e a curtir a vida”, ressalta.