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Estado de Minas

Memorial da América Latina estava com alvará vencido havia 20 anos

Incêndio de grandes proporções pode ter provocado danos irreparáveis ao acervo, inclusive de plantas originais de Oscar Niemeyer


postado em 01/12/2013 06:00 / atualizado em 01/12/2013 07:55


São Paulo – Os estragos provocados pelo incêndio que ocorreu sexta-feira à tarde no Memorial da América Latina, na Zona Oeste de São Paulo, podem ser ainda maiores do que o divulgado inicialmente. Caixas com documentos importantes, inclusive plantas originais do arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012), podem ter sido destruídas pelas chamas. Francisco de Assis Gomes, de 67 anos, um dos funcionários responsáveis pelo arquivo do memorial, está preocupado com o estado da documentação. "Há várias caixas de documentos que eu mesmo arquivei lá, inclusive plantas originais de Oscar Niemeyer", disse.

O incêndio que causou apreensão em todo o país destruiu 90% do Auditório Simon Bolívar, no memorial, segundo o major do Corpo de Bombeiros Wagner Lechner. "Queimou tudo. Só ficou um vazio lá dentro. As cadeiras, o palco, o revestimento das paredes, não sobrou nada", disse o primeiro- tenente dos Bombeiros Mauro Brancalhão, um dos agentes que entrou no prédio para combater as chamas. O fogo danificou parte da obra da artista plástica Tomie Othake, uma tapeçaria de cerca de 800 metros quadrados. Mas o trabalho poderá ser refeito por tapeceiros, já que existe o projeto original, segundo o presidente da Fundação Memorial da América Latina, João Batista de Andrade. O secretário estadual de Cultura, Marcelo Araujo, disse que a avaliação completa dos prejuízos e as medidas  só serão anunciadas após a avaliação dos peritos.

O Auditório Simon Bolívar, que integra o complexo do Memorial da América Latina, estava com o alvará de funcionamento vencido havia 20 anos, segundo informação da Secretaria Municipal de Licenciamento da Prefeitura de São Paulo. Em nota, o órgão comunicou que foi aberto um processo para emissão de um novo alvará, mas "não foram apresentados os documentos e os atestados assinados por profissionais responsáveis pelas condições de segurança".

João Batista de Andrade afirmou que um novo alvará já foi aprovado pela prefeitura, mas ainda não foi expedido. Ele disse que o auditório tinha uma autorização específica para funcionamento do antigo Departamento de Controle de Uso de Imóveis (Contru). “Não estávamos parados. Fomos ao fundo para buscar o alvará. Tanto é que fizemos reunião com a prefeitura e até realizamos algumas modificações técnicas solicitadas pela prefeitura”, disse Andrade.

De acordo com a assessoria de imprensa do memorial, a própria prefeitura realizou em setembro um evento no Auditório Simon Bolívar. Foi uma audiência pública para apresentação das propostas do Arco Tietê, projeto municipal que pretende modernizar e desenvolver uma área de 6.044 hectares à beira do Rio Tietê.

VISTORIA A Secretaria de Licenciamento confirma que o processo de tramitação para que o memorial obtivesse um novo alvará está em andamento, mas que não foram entregues todos os documentos necessários para a expedição. Segundo a nota da Secretaria de Licenciamento, em maio deste ano, foi realizada uma vistoria referente a um evento temporário que ocorreu em um dos auditórios do local. Na vistoria, foram constatadas irregularidades relacionadas, por exemplo, à "instalação elétrica e acúmulo de matérias inservíveis".

A Secretaria apresentou ao memorial uma intimação para sanar as irregularidades e todas os problemas foram corrigidos, o que permitiu a realização do evento, em maio, e a apresentação das propostas do Arco Tietê, em setembro. O memorial não foi multado, nem houve necessidade de interdição do auditório, já que as condições do prédio apresentavam segurança. Mas o alvará de funcionamento, que deve ser renovado anualmente, está vencido desde 1993, como confirmou a Secretaria de Licenciamento.

Conforme balanço divulgado ontem pelo Corpo de Bombeiros, 25 soldados foram intoxicados após excessiva inalação de fumaça. Alguns tiveram queimaduras internas. Desses, 20 foram atendidos e liberados. Cinco ainda estão internados, sendo quatro deles em estado grave. “O local tem um pé-direito muito alto. Houve um acúmulo excessivo de gases inflamáveis no teto do auditório e uma queima lenta pelo pouco oxigênio no ambiente. Quando os bombeiros entraram, esse gás, quente, encontra o oxigênio e acontece o que chamamos de flash over, comum em alguns incêndios”, explicou o major Mauro Lopes, porta-voz do Corpo de Bombeiros.

Memória

Espaço de integração


Projetado por Oscar Niemeyer e idealizado pelo antropólogo Darcy Ribeiro, o Memorial da América Latina foi inaugurado em 1989 e tombado em 1997. Com 84 mil metros quadrados, foi concebido para ser um espaço de integração e informação dos países latino-americanos, e acolhe a sede do Parlamento Latino-Americano (Parlatino). Na Praça Cívica está a famosa escultura em concreto, também de Niemeyer, representando uma mão aberta, em posição vertical, com o mapa da América Latina pintado em vermelho na palma. O local abriga um pavilhão de exposições, uma biblioteca com livros, jornais, revistas, vídeos, filmes e gravações sonoras sobre a história da América Latina e um salão para exposição. O Auditório Simon Bolívar, que integra o complexo do Memorial da América Latina, recebeu, por quase 13 anos, shows de nomes importantes da MPB, como Milton Nascimento, Gal Costa, Paulinho da Viola e Toquinho, e concertos eruditos, sobretudo de orquestras latino-americanas. Com capacidade para 1.600 pessoas, teve também em seu palco festivais internacionais e eventos diplomáticos entre governantes latino-americanos.


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