O corpo de d. Waldyr foi velado na paróquia de Nossa Senhora da Conceição e será enterrado nesta segunda-feira, 2, também em Volta Redonda, onde ele ganhou o apelido de "bispo de sangue", por causa de suas lutas. Alagoano de Murici, foi bispo auxiliar do Rio de 1964 a 1966 e bispo da diocese de Barra do Piraí e Volta Redonda por 34 anos, de 1966 a 1999. Grande defensor dos princípios da Teologia da Libertação e incentivador das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), de movimentos populares e das pastorais sociais, ele estudou Filosofia no Seminário Maior de Maceió (AL) e Teologia no Seminário São José, no Rio.
O professor da PUC-Rio e da UERJ Adair Rocha, amigo de d. Waldyr lembra que muitos o chamavam de bispo socialista. "Ele era o que conseguia, inclusive dentro dos setores progressistas da CNBB, colocar as coisas politicamente mais avançadas. D. Waldyr sempre teve um rigor muito grande em relação aos direitos a que a população precisa ter acesso, e ao mesmo tempo fazia tudo isso com o cuidado de não criar formas de repulsa. Era um processo que ajudava cada vez mais a avançar e a fortalecer os movimentos com coerência democrática."
Para d. Waldyr, o modelo capitalista era incapaz de resolver os graves problemas de desigualdades sociais e o grande desafio para a esquerda era encontrar uma "alternativa verdadeira". Durante a ditadura, ele foi perseguido após denunciar torturas e outras violações de direitos humanos. Em 1967, a sede da diocese foi invadida por militares à procura de material subversivo e quatro jovens foram presos.
"O que é mais doloroso em tudo isto é que qualquer posição que se venha a reivindicar em favor dos menos favorecidos é tachada de comunista", disse d. Waldyr no ano seguinte, ao rebater acusações de que a Igreja Católica estaria abrigando comunistas. Em 1969, ele e 16 padres de sua diocese foram indiciados num inquérito policial militar do Exército sob acusação de atividades subversivas, que acabou arquivado. Em 1971, um padre e um grupo de jovens ligados à Juventude Operária Católica foram levados para a cadeira por militares.
Na greve de 1988, ele tomou posição a favor dos operários, que reivindicavam melhores condições de trabalho, e abrigou líderes do movimento. Recebeu uma carta da Congregação para os bispos com advertências relacionadas à sua pregação. O documento fazia parte do esforço do papa João Paulo II para conter o avanço da Teologia da Libertação na América Latina. O mentor da ação era o então prefeito da Congregação para Doutrina da Fé, o cardeal alemão Joseph Ratzinger, lembrou o jornalista Roldão Arruda em seu blog no Estadão.
Em nota, a Arquidiocese do Rio apontou d. Waldyr como defensor dos pobres e marginalizados, destacando sua atuação como o `Bispo da Juventude', especialmente durante a ditadura: "Ficou conhecido ainda por seu engajamento nas lutas sociais em favor dos menos favorecidos, como o movimento dos posseiros e o movimento sindical. Jamais negou abrigo e apoio a todos os perseguidos políticos que buscaram sua ajuda. Lutou desde sempre pelos direitos dos trabalhadores e de todos os segmentos oprimidos da população brasileira, estendendo o seu apoio também às lutas de outros povos pela liberdade e pelo fim da exploração econômica da força de trabalho."