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Estado de Minas

Morre Dom Waldir Calheiros que foi personagem central na greve da CSN

D. Waldyr estava internado com infecção pulmonar na UTI de uma clínica particular desde o início de novembro


postado em 01/12/2013 21:17

O bispo emérito de Barra do Piraí e Volta Redonda, no Rio, d. Waldyr Calheiros, morreu na manhã deste sábado, 30, aos 90 anos, de falência múltipla dos órgãos. Com uma trajetória marcada pelo envolvimento em causas sociais e pela defesa dos direitos humanos, ele foi perseguido durante a ditadura militar (1964-1985). Em 1988, destacou-se como um dos personagens centrais na histórica greve da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), na qual três operários foram mortos pelo Exército.

D. Waldyr estava internado com infecção pulmonar na UTI de uma clínica particular desde o início de novembro. Em 12 de setembro havia gravado um depoimento à Comissão Nacional da Verdade (CNV). Sua nomeação como bispo auxiliar da Arquidiocese do Rio, em 1964, coincidiu com o golpe militar. Aos membros da comissão, ele declarou: "Quem tomava nova posição a favor dos problemas sociais era malvisto. Os outros procuravam se esconder para não dizer qual era a sua tendência".

O corpo de d. Waldyr foi velado na paróquia de Nossa Senhora da Conceição e será enterrado nesta segunda-feira, 2, também em Volta Redonda, onde ele ganhou o apelido de "bispo de sangue", por causa de suas lutas. Alagoano de Murici, foi bispo auxiliar do Rio de 1964 a 1966 e bispo da diocese de Barra do Piraí e Volta Redonda por 34 anos, de 1966 a 1999. Grande defensor dos princípios da Teologia da Libertação e incentivador das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), de movimentos populares e das pastorais sociais, ele estudou Filosofia no Seminário Maior de Maceió (AL) e Teologia no Seminário São José, no Rio.

O professor da PUC-Rio e da UERJ Adair Rocha, amigo de d. Waldyr lembra que muitos o chamavam de bispo socialista. "Ele era o que conseguia, inclusive dentro dos setores progressistas da CNBB, colocar as coisas politicamente mais avançadas. D. Waldyr sempre teve um rigor muito grande em relação aos direitos a que a população precisa ter acesso, e ao mesmo tempo fazia tudo isso com o cuidado de não criar formas de repulsa. Era um processo que ajudava cada vez mais a avançar e a fortalecer os movimentos com coerência democrática."

Para d. Waldyr, o modelo capitalista era incapaz de resolver os graves problemas de desigualdades sociais e o grande desafio para a esquerda era encontrar uma "alternativa verdadeira". Durante a ditadura, ele foi perseguido após denunciar torturas e outras violações de direitos humanos. Em 1967, a sede da diocese foi invadida por militares à procura de material subversivo e quatro jovens foram presos.

"O que é mais doloroso em tudo isto é que qualquer posição que se venha a reivindicar em favor dos menos favorecidos é tachada de comunista", disse d. Waldyr no ano seguinte, ao rebater acusações de que a Igreja Católica estaria abrigando comunistas. Em 1969, ele e 16 padres de sua diocese foram indiciados num inquérito policial militar do Exército sob acusação de atividades subversivas, que acabou arquivado. Em 1971, um padre e um grupo de jovens ligados à Juventude Operária Católica foram levados para a cadeira por militares.

Na greve de 1988, ele tomou posição a favor dos operários, que reivindicavam melhores condições de trabalho, e abrigou líderes do movimento. Recebeu uma carta da Congregação para os bispos com advertências relacionadas à sua pregação. O documento fazia parte do esforço do papa João Paulo II para conter o avanço da Teologia da Libertação na América Latina. O mentor da ação era o então prefeito da Congregação para Doutrina da Fé, o cardeal alemão Joseph Ratzinger, lembrou o jornalista Roldão Arruda em seu blog no Estadão.

Em nota, a Arquidiocese do Rio apontou d. Waldyr como defensor dos pobres e marginalizados, destacando sua atuação como o `Bispo da Juventude', especialmente durante a ditadura: "Ficou conhecido ainda por seu engajamento nas lutas sociais em favor dos menos favorecidos, como o movimento dos posseiros e o movimento sindical. Jamais negou abrigo e apoio a todos os perseguidos políticos que buscaram sua ajuda. Lutou desde sempre pelos direitos dos trabalhadores e de todos os segmentos oprimidos da população brasileira, estendendo o seu apoio também às lutas de outros povos pela liberdade e pelo fim da exploração econômica da força de trabalho."


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