Uma família que, há cinco anos, deixou o Brasil para viver o sonho americano teve o destino brutalmente interrompido. No último sábado, a polícia de Orange County encontrou o corpo de Cledione Regina Ruppenthal Ferraz do Amaral, 34 anos, de Márcio Luiz Ferraz do Amaral, 45, e de Wendy Ferraz do Amaral, 10, dentro do carro, na garagem da casa onde moravam, em um condomínio na área luxuosa de Lake Nona, em Orlando (Flórida). A suspeita é de um duplo assassinato seguido de suicídio. Chocados com a tragédia, os parentes tentam agora trazer os restos mortais dos três para o país. “Parece que isso não está acontecendo, é uma situação surreal. Eles eram casados há 11 anos, tinham uma boa relação”, contou ao Correio Suênia Karolin Ruppenthal, irmã de Cledione que mora em Brasília.
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Nos cinco anos em que viveram nos EUA, eles nunca vieram ao Brasil. Os parentes de Cledione também não tiveram a oportunidade de visitá-los. O contato com o país natal era mantido pela internet. Em julho, porém, a comunicação praticamente foi interrompida. Márcio estava desempregado e a mulher trabalhava no Animal Kingdom, um dos parques da Disney, em Orlando.
Problemas financeiros
Os corpos só foram encontrados porque a dona do imóvel alugado pela família brasileira estranhou o fato de o cheque do aluguel, enviado sempre via postal, não ter chegado. O valor relativo ao mês de outubro estava atrasado, mas, de acordo com Fran Maestro, proprietária da casa, Cledione havia entrado em contato, em 9 de novembro, para pedir desculpas pelo incômodo, explicando que enfrentavam problemas financeiros, e comunicar que mandaria o valor no dia seguinte. Até então, segundo Fran, os pagamentos eram feitos sempre na data prevista.
Diante da justificativa, a proprietária ficou à espera do cheque. Como o documento não chegou e ela não conseguiu entrar em contato com os inquilinos, pediu a um funcionário que fosse até a casa. Ao chegar ao local, novamente, nenhum retorno. O homem, no entanto, sentiu um forte cheiro vindo da garagem e decidiu chamar a polícia. “Eles eram ótimas pessoas. Sinto muito pela família deles”, afirmou Fran em entrevista ao site norte-americano wftv.com.
De acordo com a irmã de Cledione, assim que o laudo cadavérico for liberado pelos legistas, a família terá cinco dias para trazer os corpos, cremados, ao Brasil. “Mas precisamos constituir um advogado lá, além de levantar US$ 8 mil para cada um. Não temos condições financeiras”, lamentou Suênia. Segundo ela, os parentes de Márcio, que moram em São Paulo, também sofrem com a situação. “Precisamos ao menos desse conforto para os nossos corações”, finalizou.