Jornal Estado de Minas

Polícia já ouviu 150 pessoas sobre as ações violentas em manifestações em SP

Agência Estado

A Polícia Civil de São Paulo já ouviu 150 pessoas no inquérito que investiga a ação dos blacks blocs nas manifestações de rua. Nenhum deles, no entanto, foi indiciado. De acordo com o diretor do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), Wagner Giudice, a polícia espera ouvir cerca de 300 pessoas até o fim do ano.


Os convocados para depôr no inquérito são pessoas que foram detidas em alguma das manifestações. Segundo Giudice, a polícia busca elucidar se houve associação criminosa - nova denominação para formação de quadrilha – nos delitos durante os atos de protesto, como danos ao patrimônio público ou privado.


“A nossa estratégia é separar quem foi surpreendido porque estava em um movimento legítimo e quem foi lá para fazer bagunça. Esta é nossa missão. Desses 300, nós vamos chegar naqueles caras que, recalcitrantemente, estão participando e não têm nenhum tipo de fundamentação ”, disse o diretor do Deic.
A polícia pretende, a partir do inquérito, mapear antecipadamente os manifestantes que comenteram ilícitos durante os protestos. “É como se eu pudesse acompanhar uma quadrilha de ladrão de banco desde o momento do planejamento até a execução final. A gente já começa a mapear esse pessoal antes e, se eventualmente acontecer um quebra-quebra, o responsável já está identificado anteriormente”, acrescentou Giudice. Segundo ele, uma das ações propostas será o de obrigar as pessoas envolvidas a se apresentarem à polícia horas antes das manifestações marcadas.

Segundo o representante da Comissão de Direitos Humanos do Sindicato dos Advogados de São Paulo, o advogado, Ramon Koelle, que defende um dos convocados, o inquérito é inconstitucional e tem como objetivo criminalizar as manifestações.

“É um inquérito absolutamente vago que coloca perguntas que violam absurdamente, como na ditadura, o livre organizar das pessoas. Pergunta-se se as pessoas são filiadas a partidos políticos, se tem e-mail, Facebook, onde os jovens se encontram. É um inquérito que, intimidando as pessoas, visa apenas a investigar como a juventude se organiza, sem objetivos claros, sem objetivo específico. O inquérito viola as garantias constitucionais”, disse.

O advogado questionou ainda a falta de investigação das ações da própria polícia durante as manifestações. “Deveria haver, sim, uma força-tarefa para investigar a ação da Polícia Militar. Para investigar os manifestantes, a Delegacia de Crimes Econômicos e Financeiros parou para fazer isso. Mas não há força-tarefa para investigar os abusos da Polícia Militar, que foram evidentes”, declarou.