Só no bairro Anjo da Guarda, onde atua o delegado, foram pelo menos dez homicídios e sete tentativas em 2013. No inquérito, os apelidos se repetem, mostrando como se dá a guerra. Por exemplo, em 12 de fevereiro, Wanderson Oliveira, ligado a Jairo Reis Gomes, o Pixirico, do Bonde dos 40, executou em uma feira Ney Santos, do PCM. Em 26 de maio, veio o troco: Valdeci Leite, um dos seguranças do ponto de drogas de Pixirico, foi executado por Raimundo Pereira, o Pixilau, ligado ao PCM.
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Hoje, nas contas da polícia, o Bonde dos 40, que surgiu no Maranhão, está levando a melhor na guerra das facções. Um dos principais líderes do grupo foi preso no Pará, na semana passada. Filho de um policial militar, Alan Kardec Dias Mota, o Alex, responde por pelo menos três homicídios e duas tentativas de assassinato. Ele é suspeito de ter ordenado os ataques a ônibus que acabaram matando a menina Ana Clara de Sousa, de 6 anos, com 95% do corpo queimado.
Integrantes do Bonde dos 40 chegaram a pagar um músico para fazer um funk para intimidar a facção rival. "Esse é bonde periculoso, não corre, p... não treme, está aberta a temporada de caça aos PCM", diz a letra.
Cada uma das facções usa grupos menores para marcar seu poder nos bairros. "Eles seguem descentralização territorial. No bairro do Anjo da Guarda tem o Mensageiro do Inferno, ligado ao Pixirico, que é do Bonde dos 40. No mesmo bairro tem o Grupo da Proab, ligado ao PCM", afirma o delegado.
Não é apenas com integrantes das facções que as quadrilhas são cruéis. Em 2009, a irmã grávida de um viciado tentou resgatar uma máquina fotográfica que havia sido trocada por drogas. O traficante entregou a máquina, mas disse: "Você não vai ficar com ela." Uma semana depois, a jovem foi baleada, perdeu o bebê e ficou paraplégica.
Para Vanderley, a impunidade fortalece as facções. "O combate deveria ter começado assim que estavam se formando, quando começaram a matar. Houve realmente omissão na investigação", admite. Segundo ele, há policiais com medo dos criminosos. "O covarde deixa a sociedade desprotegida."
Família
A família de Ana Clara, que morreu após ter 95% do corpo queimado, cobrou combate à violência por parte do governo, antes da missa de 7º dia, em São Luís. "Ver quem cometeu o crime contra minha filha preso alivia muito, mas não traz ela de volta", disse o pai, Wenderson de Sousa, de 25 anos.
A família foi à Paróquia Nossa Senhora da Conceição vestindo camisetas com a foto de Ana Clara e do bisavô, Dasico, de 80 anos, que morreu de problemas cardíacos ao saber do ataque à menina. A mãe da criança está internada em Brasília. A Igreja Católica também realizou missas em homenagem à menina em toda a capital.