A repercussão nas redes sociais ao vídeo no qual o padre Hewerton di Castro canta uma paródia da música Show das poderosas, de Anitta, durante um culto ecumênico de uma turma de formandos em direito, provocou um movimento de defesa ao religioso. Os estudantes da turma da Universidade Católica de Pernambuco manifestaram apoio a ele por meio de carta aberta postada no Facebook. Frequentadores da capela de Santo Antônio, na Vila Tamandaré, onde Hewerton é conhecido por lotar missas, também expressaram surpresa às críticas e reforçaram o carisma dele. Apesar de não se pronunciar oficialmente, a Arquidiocese de Olinda e Recife não penalizou Hewerton, que deverá cumprir a agenda de celebrações hoje.
Hewerton deve celebrar duas missas hoje. Às 18h, na Matriz de Santa Luiza, e às 19h30, na Vila Tamandaré. Amanhã, ele tem agenda às 9h e às 19h30, no segundo endereço. Os frequentadores esperam encontrá-lo com o mesmo vigor de antes. Durante a missa, Hewerton costuma sair do altar, cantar e desejar a paz, pessoalmente, a todos os fiéis. “A missa lota e tem gente que fica do lado de fora. Pois ele sai e vai cumprimentar as pessoas até a área externa”, detalhou uma integrante do grupo de terço da capela de Santo Antônio, onde o padre está desde o ordenamento, em dezembro de 2012.
A polêmica começou depois da noite do último 8 de janeiro. Na ocasião, ele
cantou uma versão da música de Anitta, criada na Jornada Mundial da Juventude (JMJ), e dançou. Um vídeo de dois minutos e 34 segundos postado na internet tornou a versão conhecida e o levou a uma conversa de 30 minutos, na quinta-feira, com o arcebispo de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido. Depois disso, Hewerton emitiu nota em que diz estar chateado e pede perdão aos ofendidos. Em seguida, deletou a conta no Facebook.
Extrovertido e vaidoso
Um homem de 37 anos, extrovertido e vaidoso ao ponto de frequentar três vezes durante a semana a academia e estar sempre com a imagem impecável. Mas, sobretudo, fiel ao princípio de divulgar a palavra de Deus. Assim Hewerton di Castro é descrito pelos conhecidos e fiéis. Ordenado pelo próprio Dom Fernando Saburido em 17 de dezembro de 2012, o padre entrou para o seminário de Olinda no ano de 2004 para seguir a religião que conheceu na adolescência. Apesar de ser de família judia, despertou nessa época da vida o desejo de seguir o cristianismo e trabalhar para a igreja católica.
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Em nota oficial, Hewerton justifica o jeito extrovertido com que prega a palavra de Deus como um desejo de atrair os jovens para perto da igreja. Novas maneiras de fazer a liturgia, com a inserção de músicas e danças, são fruto do movimento de renovação carismática, iniciado nos Estados Unidos e aportado no Brasil na década de 1970. Buscando uma igreja mais viva e fomentando o protagonismo dos leigos diante da tradicional hieraquia católica, essa corrente suscita também um choque com a maneira mais tradicional de conduzir as celebrações, base dos comentários agressivos contra Hewerton nas redes sociais.
O diretor do Centro de Teologia e Ciências Humanas da Unicap, Degislando Nóbrega, explica que nessa tendência se encaixam, por exemplo, os padres artistas. “Mas ela não pode ser confundida com a renovação buscada pela igreja católica”, pondera. Isto porque, segundo ele, a disposição do Papa Francisco de resignificar as práticas, lugar e missão da igreja no mundo está mais fundamentada na profundidade. “O caso mostra como a palavra renovação na igreja pode ser polissêmica. E também uma certa ingenuidade, que pode ter surgido por ele ser um padre jovem. A igreja sempre irá preservar os dogmas, a própria imagem. Talvez renovar não signifique nivelar à cultura geral, e o instrumento de comunicar escolhido não tenha sido feliz”, comentou Degislando.