O advogado Alexandre Khuri Miguel alega que o uso da maconha é religioso e deve ser permitido como o chá de ayahuasca, usado pelos seguidores do Santo Daime. "A Constituição garante a liberdade ao culto religioso", afirmou o advogado, que vai recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Em decisão de maio de 2013, o juiz Eugênio Augusto Clementi Júnior citou decisão do TJ do Rio Grande do Sul que afirma que a liberdade de culto religioso só pode ser invocada se a prática ritualística não entrar em conflito com a lei penal. "Se alguém quiser sacrificar virgens, como faziam os astecas, a lei brasileira não irá permitir. É o mesmo caso", sustentou o magistrado.
Para o juiz, ficou provado que Ras Geraldinho "fornecia maconha para terceiros", fora dos cultos de sua igreja, incluindo menores de idade.
Fundada em 2011, a "igreja da maconha" usa a filosofia rastafári para defender a maconha como erva sagrada e conseguir sua liberação para fins religiosos.
Em um sítio, que foi confiscado pela decisão judicial, além dos pés de maconha, era feito o uso da droga abertamente. Para os integrantes da seita, o uso ritualístico e chamado de "reasoning". Na sentença, o juiz anexou um vídeo onde mostra pessoas fumando maconha na chácara e conclui "o ambiente não é nem um pouco litúrgico".
O juiz apontou ainda que a cobrança de R$ 10,00 para frequentadores da igreja caracterizava que no local funcionava um "self-service" da droga, como sustentou o promotor de Justiça Clóvis Siqueira. Ele também cita a apreensão dos 37 pés da maconha, que pesaram 7 quilos.
"Foi um erro jurídico interpretar que havia grande quantidade. Desse total da planta, isso viraria 150 gramas, no máximo, que é uma quantia que pode ser usada em um mês", defendeu o advogado.
No entanto, pela sentença do juiz, o líder agiu como traficante de maconha e tinha expressiva quantidade da droga. A pena fixada em primeira instância e mantida pelo TJ foi de 14 anos, dois meses e 20 dias de prisão, multa equivalente a R$ 51,1 mil, além de ter o imóvel apreendido.
O desembargador Ruy Leme Cavalheiro, da 3ª Câmara do Direito Criminal, manteve a condenação e negou todos os argumentos da defesa. Geraldinho está no presídio de Iperó sem poder dar entrevistas, sob alegação de risco de apologia ao uso de drogas.