O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Marcelo Freixo (PSOL), negou nessa segunda-feira conhecer o homem suspeito de soltar o rojão que atingiu o cinegrafista da TV Bandeirantes Santiago Andrade. Ferido quinta-feira (6) durante manifestação no centro do Rio, Santiago teve morte cerebral declarada na manhã desta segunda-feira. De acordo com Freixo, não tem fundamento a informação veiculada nesse domingo pela TV Globo, segundo a qual a ativista Elisa Quadros, conhecida como Sininho, disse que o homem que acendeu o artefato é ligado a ele.
Em entrevista coletiva, o deputado defendeu o diálogo para acabar com a “escalada de violência dos dois lados”, que tomou conta das manifestações que tiveram início, de forma pacífica, em junho do ano passado. “Repudiamos qualquer ação violenta e lamentamos profundamente a morte do Santiago, que era uma pessoa conhecida e querida, e essa escalada de violência de todos os lados, que precisa cessar, para que tenhamos possibilidade de manifestações – que são importantes –, mas que sejam legítimas e transformadoras da realidade”.
Freixo classificou de "lamentável e exdrúxula" a informação divulgada na reportagem de TV. "Não há qualquer relação [dele com o homem que acendeu o rojão]. Isso foi um termo circunstanciado assinado pelo estagiário de um advogado, que pede para fazer esse documento e entrega na mão de uma repórter de uma TV. E isso vira uma denúncia, sem qualquer investigação, sem qualquer cuidado para saber se a informação procede ou não”, disse o deputado.
Freixo explicou que ontem o estagiário Marcelo Mattoso assinou um termo de declaração na 17ª Delegacia de Polícia (DP), em São Cristóvão, dizendo que recebeu telefonema de Elisa na qual a ativista mencionou a possível ligação entre ele e o homem que acendeu o rojão. Mattoso trabalha com o advogado Jonas Tadeu Nunes, defensor do tatuador Fábio Raposo, que admitiu ter passado o artefato ao homem que o ativou. O deputado ressaltou que a própria Elisa Quadros negou ter feito afirmações neste sentido e disse que não há nenhuma comprovação disso. "Acusa-se [o deputado] de uma relação com alguém que ninguém sabe sequer quem é [homem que acendeu o rojão]. Então, é de uma fragilidade absurda e de uma enorme leviandade o que se faz”, reclamou Freixo.
O deputado também negou ter relações políticas com Elisa, mas admitiu que ela o procurou para falar sobre denúncias de violação de direitos humanos na prisão de Raposo. “As pouquíssimas vezes que ela me procurou foi por violações de direitos humanos. Evidentemente, atendo a ela como atendo a qualquer pessoa, porque é a minha função pública como presidente da Comissão de Direitos Humanos, mas não há qualquer vínculo [meu com ela].”
O advogado Jonas Tadeu Nunes confirmou que estava na delegacia quando recebeu um telefonema de Elisa Quadros, no qual a ativista ofereceu assistência jurídica para Raposo, falando em nome do parlamentar. “Não tenho nenhum problema com o Marcelo [Freixo]. O que sustento é que recebi uma ligação de uma moça que não conheço – até então, nunca tinha ouvido falar no nome. (...) Na delegacia, perante a autoridade policial, fui interrompido com o oferecimento de assistência jurídica, por meio de advogados que seriam disponibilizados a pedido e a mando do deputado Marcelo Freixo. Ou seja, a Sininho estaria ligando a mando do deputado”, relatou o advogado.
Nunes acrescentou que, nessa conversa, Elisa informou que iria para a porta da delegacia com alguns ativistas, “a mando de Marcelo Freixo, porque eles [Raposo e o homem que acendeu o rojão] eram conhecidos e interessava dar esse apoio”.
A reportagem da Agência Brasil tentou contato com a ativista, mas não obteve retorno. Em sua página em uma rede social, Elisa Quadros postou a foto da intimação que recebeu para prestar esclarecimentos amanhã (11) na 17ª DP, como testemunha. Ela explica que conversou com a família de Raposo e com Jonas Nunes para saber como o tatuador estava e se precisavam de alguma coisa, como a ajuda de advogados ativistas. Sininho também diz que falou com Freixo e com o advogado sobre a integridade física do acusado.
No post, Elisa acrescenta ter sabido depois que o advogado disse que ela conhecia "o segundo menino do rojão, que era conhecido do Marcelo Freixo". Ela contou que foi chamada à sala do delegado, que, o tempo todo, queria que ela falasse de Black Bloc. "Mais uma vez me colocando como líder, foi a ponto de um deles [policiais] perguntar por que a gente invadia manifestação dos outros, como dos professores”.