Brasília – A menos de quatro meses para o início da Copa do Mundo, os Centros Integrados de Comando e Controle (CICC), os cérebros que vão interligar todas as forças de segurança envolvidas com o evento para execução de planejamento e táticas operacionais, ainda não ficaram prontos. Das 13 unidades previstas, que já poderiam estar funcionando para que os agentes públicos tivessem mais tempo de se adaptar à nova estrutura, 10 delas ainda estão praticamente pela metade. O ritmo lento agrava o já criticado e ineficaz trabalho de inteligência do governo brasileiro para conter as violentas manifestações de rua, que sacudiram capitais brasileiras no ano passado e apresentam fortes sinais de recrudescimento. O fato é que o Brasil continua carregando uma interrogação do tamanho do seu território quando o assunto é a segurança na Copa.
No ano passado, o atraso no cronograma foi grande. São Paulo, por exemplo, apresentava apenas 17% de execução. Agora, o governo federal corre contra o tempo, mas garante que todos os centros serão entregues até abril. Dados oficiais da Secretaria Extraordinária de Grandes Eventos apontam que a chamada “infraestrutura não técnica”, que engloba todas as instalações necessárias para o funcionamento dos equipamentos, anda em ritmo bastante lento. Do total de sedes da Copa do Mundo, nove apresentam menos de 35% de execução nesse quesito específico.
É justamente pelo ritmo lento que as soluções tecnológicas não foram implementadas completamente. Minas Gerais só tem 11% do que o governo chama de solução integradora implantada. A unidade da Federação com situação mais avançada é o Distrito Federal, com 44%, onde ficará o centro de controle nacional. Amazonas, Bahia, Ceará, Mato Grosso, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e São Paulo instalaram apenas 25% em relação à parte tecnológica da estrutura. Apenas o Amazonas está com 95% concluídos.
Nos bastidores, comenta-se que alguns estados, a exemplo de São Paulo, criaram problemas para repassar a base de dados para a integração das redes. Há até quem diga que a “má vontade” foi motivada por um possível boicote eleitoral do governo tucano para prejudicar os planos da presidente Dilma Rousseff. O governo paulista nega. No início do ano, São Paulo apressou o passo e, mesmo assim, só tem metade da obra pronta. A Receita Federal também dificultou o repasse de informações. O Palácio do Planalto foi acionado e o problema, resolvido.
Em entrevista ao Estado de Minas, o secretário extraordinário de Segurança para Grandes Eventos, delegado federal Andrei Augusto Passos Rodrigues, afirmou que o desafio é fazer com que as forças consigam trabalhar de forma integrada. “O grande êxito vai ser conseguir fazer a integração entre as instituições, que cada uma cumpra seu papel e que essa engrenagem se mova de maneira perfeita”, afirmou.
Rodrigues reconheceu que o maior temor é com a violência durante as manifestações. “A grande preocupação da segurança pública não é com manifestações pacíficas.
DESPREPARO Especialistas em segurança pública apontam as ações de inteligência das polícias brasileiras como o ponto mais fraco na hora de inibir atos de violência. O professor Luis Flávio Sapori, coordenador do Centro de Pesquisas de Segurança Pública da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), afirma que a força policial no Brasil não está tecnicamente preparada para atuar nas manifestações de rua. “É um fenômeno novo no nosso país. É diferente da violência urbana a que estamos acostumados. Não tenho dúvida de que o nível de policiamento será enorme na Copa. Os cidadãos brasileiros vão se sentir seguros como nunca. Mas as manifestações são imprevisíveis. A grande preparação de inteligência tinha que já ter sido feita.”
O cientista político e pesquisador do Laboratório de Violência da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) João Trajano Sento Sé afirma que as polícias do Brasil sempre investiram na força.
Morte do cinegrafista
O Ministério Público do Rio de Janeiro deve decidir até sexta-feira se oferecerá denúncia à Justiça contra Caio Silva de Souza e Fábio Raposo, suspeitos de terem lançado o rojão que matou Santiago Andrade, cinegrafista da TV Bandeirantes. O delegado Maurício Luciano de Almeida indiciou os dois jovens por crime de explosão e por homicídio triplamente qualificado – motivo fútil, emprego de explosivo e sem possibilidade de defesa da vítima. O inquérito entregue ao MP fluminense na última sexta-feira define que Caio e Fábio agiram com dolo eventual, ou seja, que assumiram o risco de matar, ainda que não tivessem essa intenção. Ambos estão presos temporariamente no Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, Zona Oeste do Rio. .