Um “pelotão ninja” da Polícia Militar, especializado em artes marciais e sem armas de fogo, atuará pela primeira vez hoje na manifestação intitulada “Não Vai ter Copa”, prevista para o centro de São Paulo. O protesto está marcado para as 17h, na Praça da República, e, até as 20h de ontem, mais de 13 mil pessoas tinham confirmado presença nas redes sociais. Segundo a PM, os policiais do pelotão vão atuar na imobilização de quem, eventualmente, praticar crimes na multidão.
A criação do pelotão foi antecipada pelo Estado em novembro, quando o comandante-geral da PM, coronel Benedito Roberto Meira, afirmou que haveria efetivo específico para lidar com manifestações - com conhecimento de artes marciais. Na ocasião, adiantou que policiais foram selecionados nos 31 batalhões existentes na capital e já recebiam o treinamento para atuar nos protestos.
O “pelotão ninja” tem entre e 80 e 100 policiais e foi treinado por quatro meses. Na manhã de ontem, o capitão Emerson Massera, porta-voz da PM, disse que foram selecionados policiais altos, com força física diferenciada e conhecimento em jiu-jítsu, caratê, judô e até capoeira.
Segundo a PM, o objetivo dessa tropa é agir pontualmente no isolamento de indivíduos que tenham atitude violenta. O primeiro ato contra a Copa, no dia 25 de janeiro deste ano, acabou em confronto entre black blocs e policiais. Ao todo, 128 pessoas foram detidas.
“Agora, o pelotão agirá de maneira pontual e vai utilizar recursos menos agressivos”, disse Massera. “Eles vão imobilizar pessoas que eventualmente atentem contra a segurança ou que pratiquem atos de vandalismo. Isso sem a necessidade de usar equipamentos que possam causar lesões mais graves em manifestantes”, acrescentou o capitão.
Os policiais estarão uniformizados e equipados com capacetes, escudos, coletes à prova de bala, tonfa (um tipo de cassetete) e algemas. O grupo, contudo, terá a retaguarda da tropa convencional, que estará munida de bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo e balas de borracha. “É um degrau a mais no uso gradual de força, com chance menor de causar lesão. Porque você pode usar a técnica e o corpo a corpo antes de utilizar bombas de gás lacrimogêneo”, exemplificou Massera.
O consultor de segurança pública José Vicente da Silva Filho acredita no sucesso da estratégia. Ele explica que a ação é adotada em outros países e ajuda a evitar um dos principais problemas da ação da PM em protestos de rua, que é atingir manifestantes legítimos ao agir contra infratores. “Esse tipo de estratégia já é recomendado até nas principais polícias dos Estados Unidos há alguns anos. Consiste na extração de indivíduos violentos que se infiltram em manifestações legítimas e acabam se aproveitando da situação para agredir, depredar e, principalmente, atacar policiais com lançamento de rojões, pedras, coquetel molotov e tudo mais”, afirmou.
Manifestantes investigados por dano ou formação de quadrilha durante protestos em São Paulo e outros identificados com base no monitoramento das redes sociais foram intimados a comparecer às 16 horas de hoje na Delegacia Geral de Polícia (Deic) para prestar depoimento. O documento de intimação foi divulgado na página dos black blocs no Facebook. O horário marcado é próximo ao do início da manifestação na República.
Nas redes sociais, os adeptos da tática Black Bloc criticaram o documento, questionando se era uma “intimação” ou “intimidação”. A estratégia da polícia é semelhante à adotada com torcedores suspeitos de vandalismo, que são obrigados a comparecer à delegacia no horário dos jogos de futebol. A PM não divulgou o número total de policiais que estarão na manifestação de hoje, por questões de segurança.