Na hora em que a discussão começou, por volta da 1h, poucas pessoas estavam no estabelecimento, que tem sete anos e é bastante frequentado pelo público GLS. Dois casais de lésbicas sentavam próximo à porta.
As agressões verbais evoluíram para agressões físicas. Daniela*, 18 anos, levou murros no rosto, chutes na cabeça e desmaiou. A namorada dela, Maria*, 21, tentou defendê-la e também acabou atacada. “As imagens não saem da minha cabeça. Já estou acostumada a agressões psicológicas pelo fato de ser lésbica, mas nunca imaginei passar por tanto terror”, contou Maria. “Foi uma violência gratuita”, reforçou Daniela.
Depoimentos
“Em luto pela impunidade”
“Sinto-me violentada no meu espaço de trabalho. Não tinha nem vontade de abrir a loja depois de tudo o que aconteceu. O meu desejo era de manter o estabelecimento fechado em luto pela impunidade. Não é possível que essa violência seja considerada algo normal, que essas pessoas saiam impunes e que os agressores responsáveis por espancarem a jovem, detidos e encaminhados pelas mãos do poder público sintam-se confortáveis para rir na nossa cara. Porque foi isso o que aconteceu. Mesmo com a polícia presente, continuavam a proferir termos agressivos com relação à sexualidade e à raça das vítimas. Mesmo após entrar na viatura, continuaram a proferir que elas eram uma doença e que eles tinham de matar todo mundo.
Juliana Andrade Lima,
33 anos, dona do Balaio Café
“Até agora fragilizada”
“Estava com a minha namorada e um casal de amigas lésbicas nas proximidades do Balaio. Ao fim da confraternização, a minha namorada, por ter um estilo mais ‘homenzinho’, passou perto de uma das pessoas do grupo (de agressores). Ao fazer isso, imagino que um deles achou que ela tenha paquerado a mulher. Foi tudo muito rápido, eu só realmente notei o que estava acontecendo quando eu vi que ele avançou em direção a ela dando um murro e depois outro. O que mais me impressionou foi ver ele dando outro soco nela, o que a fez desmaiar.
Maria*,
21 anos, vítima
“Caí no chão desacordada”
“Eu estava com as minhas amigas, numa boa, quando um cara começou a nos xingar. Foi uma violência gratuita, sem explicação. Levei vários socos no rosto, até que caí no chão desacordada. Mesmo caída, ele continuou a me chutar. Enquanto ele me batia, outros dois seguravam as pessoas que se aproximavam para tentar apartar a briga e me tirar dali. Nunca os vi na minha vida, também nunca os vi lá no Balaio. Fui levada para uma parte reservada do café para ser socorrida e acordei um tempo depois. Quando fomos para a delegacia, os rapazes continuavam a nos provocar, debochando da gente, soltando provocações. Eles falavam que não seriam presos porque são ricos. Eles repetiam que os advogados livrariam a cara deles. Fiquei muito revoltada, foi tudo muito desproporcional. Fui para o hospital, passei por exames e fui medicada. Estou esperando resultado da tomografia para saber se tenho algo grave na cabeça.”
Daniela*,
18 anos, vítima.