Ainda segundo o relatório, 61,47% das violações ocorrem com pessoas de 12 a 29 anos. Alex estava abaixo dessa faixa etária, mas ilustra os casos de violência com jovens em casa, segundo especialistas. De acordo com o conselheiro tutelar Rodrigo Coelho, Alex André disse, em depoimento à polícia, que batia no menino porque era uma forma de corrigi-lo. O pai se incomodava com o fato de o filho gostar de dança do ventre, de lavar louça e de não querer cortar o cabelo. O homem declarou também que Alex era desobediente.
Luiz Mott, antropólogo da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e fundador do Grupo Gay da Bahia (GGB), acredita que a homofobia não tem retrocedido no Brasil e que faltam políticas para educar a população sobre o tema. “Existe no imaginário coletivo do machismo brasileiro essa pena de morte do filho homossexual”, diz. Já a doutora em psicologia com atuação em estudos de gênero Tatiana Lionço ressalta que, nesse caso, a violência corretiva para impedir que a criança seja gay ou “mulherzinha” é praticada contra uma pessoa que sequer consegue compreender o que ocorre à sua volta. “A criança não faz ideia do que é ser um homem afeminado, por que seria inapropriado brincar com certas coisas”, observa Tatiana.
Mott e Lionço concordam com a análise de que o fato de a homofobia não ser tipificada como crime contribuiu para o alastramento dos casos de violência. Desde 2001 tramitava no Congresso Nacional o Projeto de Lei 122, que tornava inafiançável e imprescritível o crime de discriminação de homossexuais. Mas, no fim do ano passado, uma manobra do Senado fez com que o texto passasse a tramitar com o novo Código Penal. Para ativistas e defensores do projeto, isso representa uma perda de força do PL, que não tramitará mais isoladamente. Outro retrocesso em termos de política pública, para os especialistas, é o fato de o chamado “kit gay”, que continha material didático-pedagógico sobre gênero – e que deveria ser distribuído nas escolas –, ter sido barrado pela presidente Dilma Rousseff, em 2011.
Crimimalização
O coordenador-geral de Direitos LGBT da Secretaria de Direitos Humanos, Gustavo Bernardes, também considera fundamental a criminalização da homofobia. "Não para colocar alguém na cadeia, mas por uma questão pedagógica. É importante que as pessoas saibam que o Estado não tolera nem compactua com essa violência. A forma de mostrar isso é ter uma legislação que criminalize", diz. Segundo Bernardes, a Noruega, a Suécia e o Chile já têm legislações a esse respeito.
O coordenador lembra que a expulsão de casa ou o abandono por parte dos pais estão entre os tipos de violência praticados. Segundo ele, a secretaria está buscando formas de conscientizar a população a lidar com esses casos.
Bernardes diz ainda que o Sistema Nacional LGBT, que prevê a articulação de políticas com estados e municípios, está sendo implementado. E há 17 termos de cooperação com secretarias de segurança pública do país para preparar policiais e fornecer atendimento adequado a vítimas de homofobia dentro e fora dos presídios..