Três meses antes da Copa do Mundo, a polícia do Rio de Janeiro ocupou nesta quinta-feira a comunidade Vila Kennedy, em 20 minutos e sem disparar nenhum tiro, reafirmando sua vontade de seguir com o processo de pacificação, mesmo com recentes ataques contra policiais em favelas já ocupadas.
Apesar da operação, realizada na madrugada, ter ocorrido sem violência, nos últimos seis dias os traficante enfrentaram a polícia 17 vezes.
Segundo a Secretária de Segurança, seis criminosos - um deles menor da idade - morreram nesses confrontos, e cinco ficaram feridos.
A polícia prendeu 80 pessoas, sendo nove delas nesta quinta, e foram aprendidas dezenas de armas, munições e drogas.
Eram recorrentes confrontos entre grupos de traficantes rivais na Vila Kennedy, que fica na zona oeste no Rio, e na vizinha favela da Metral, onde vivem cerca de 34.000 pessoas.
Aproximadamente 270 integrantes do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e do Batalhão de Choque, apoiados por veículos blindados, entraram na favela antes das 06h00, e terminaram a ocupação em 20 minutos.
"A ocupação alcançou seu objetivo, que é a reconquista do território", afirmou o secretário de Segurança da cidade, José Mariano Beltrame, à jornalistas.
"Existe um processo de pacificação que continua, e se for interrompido, será um perda inestimável para o Estado e a população", acrescentou.
- Barricadas na ruas -
A violência na comunidade cresceu quando um dos chefes do tráfico decidiu mudar de grupo e conquistar o controle do território.
Horas antes da ocupação, traficantes botaram fogo em lixo e madeira para montar barricas nas ruas.
"Durante um mês houve disparos todos dias na favela, e tínhamos muito medo. Mas desde que começaram as operações para preparar a ocupação a situação se acalmou", informou à AFP um vendedor ambulante da Vila Kennedy, que só quis identificar-se como João.
Para Adriano Gomes, motorista de 35 anos nascido e criado no bairro, "a guerra entre as gangues rivais serviu para alguma coisa, porque chamou a atenção dos poderes públicos para a região".
- Projeto começou em 2008 -
O governo instalará nas favelas a 38ª Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), de um total de 40 que pretende implementar até o Mundial de futebol, que começa em 12 de junho no Brasil.
Cerca de 250 policiais vão trabalhar de maneira permanente na região, anunciou Beltrame.
O projeto das UPP começou em 2008, visando reconquistar territórios dominados pelo tráfico de drogas. Mas, nas últimas semanas, a violência chamou a atenção em regiões tidas como pacificadas, como a Rocinha e o Complexo do Alemão. Somente nesse ano três policias morreram em favelas com UPP.
Beltrame cogitou o retorno do Exército a essas comunidades, como já aconteceu no início da ocupação, mas ao mesmo tempo minimizou o alcance da violência.
"Existem 38 UPP e temos problemas em duas, as mais populosas", explicou. "Ninguém nunca tinha entrado no território do crime. Nós fizemos isso, e eles reagiram".
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