Em poucas palavras, esse é o quadro pintado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) na segunda parte do seu quinto relatório, divulgado no domingo, 30, à noite (horário de Brasília), em Yokohama, no Japão.
A mensagem está presente no Sumário para Formuladores de Políticas, uma introdução não técnica do documento de mais de 2 mil páginas e 30 capítulos, que trata dos impactos, adaptação e vulnerabilidade às mudanças climáticas.
Com a constatação de que o mundo já está pagando a conta pelas emissões desenfreadas de gases do efeito estufa ocorridas desde a Revolução Industrial, o relatório aponta que ainda há oportunidades para lidar com os riscos. Na maior parte dos casos, medidas sérias de adaptação podem fazer com que riscos que seriam de alto nível, se nada for feito, sejam médio ou baixo.
No entanto, quanto mais tempo se levar para fazer isso, a dificuldade vai aumentar, assim como os custos. Magnitudes crescentes de aquecimento aumentam a probabilidade de impactos severos, generalizados e irreversíveis, afirma o sumário. E haverá um limite além do qual talvez não haja mais o que fazer.
A mensagem mais importante do relatório é que a gestão da mudança climática é um desafio de gerenciamento de riscos. Vemos uma ampla gama de possíveis resultados - alguns deles muito sérios.
O problema real não é se teremos 2ºC ou 3ºC de aquecimento, mas se uma seca, por exemplo, vai aumentar a propensão a incêndios - que, uma vez que começam, se estendem por milhares de quilômetros quadrados. É uma questão de gerenciamento de risco.
O relatório destaca experiências feitas ao redor do mundo, mas em escala muito pequena. As pessoas tendem a pensar que um passo gigante vai resolver tudo. Porém, talvez sejam necessários 500 pequenos passos.
Dimensão humana
Os impactos já observados afetam a agricultura, a disponibilidade de água, a saúde humana, os ecossistemas no continente e nos oceanos, e alguns modos de vida. Em geral, os problemas têm ocorrido em todo o mundo, sejam países ricos ou pobres, mas o grau de vulnerabilidade varia.
Ao longo do século 21, as mudanças climáticas podem desacelerar o crescimento econômico, fazer com que a redução da pobreza seja mais difícil, erodir ainda mais a segurança alimentar e criar novas armadilhas da pobreza, particularmente nas áreas urbanas e pontos onde há muita fome, diz o relatório.
Segundo Field, ao contrário dos textos anteriores do IPCC, este teve um foco maior na dimensão humana. Mais atenção sobre como as pessoas serão afetadas pode ajudar a garantir que elas saiam de uma condição de fome ou violência e tenham uma vida mais confortável.
A iniciativa foi bem recebida por ONGs ambientalistas que acompanharam os trabalhos na semana que passou.
Um dos temas aprofundados foi a segurança alimentar. Em 2007, o IPCC colocava, por exemplo, a possibilidade de que regiões mais altas e frias poderiam se beneficiar se tornando mais aptas para a agricultura - o que talvez compensasse perdas em outras regiões. Agora, o texto é claro em mostrar que o que temos visto são apenas impactos negativos. E destaca a relação mais abrangente do problema, relacionado com o aumento de preços dos alimentos.
As informações são do jornal
O Estado de S. Paulo..