A pujança econômica do Porto de Suape, a 40 quilômetros de Recife, não se reflete nas comunidades vizinhas. Só nos últimos cinco anos, mais de 40 mil pessoas se mudaram para o entorno do terminal para trabalhar, atraídas por salários mais altos que a média. Cidades pequenas e, até então, pacatas viram a violência aumentar, o uso de drogas tornar-se comum e a exploração sexual ser usada como fonte de renda de famílias com numerosos filhos. Cabo de Santo Agostinho (PE) é uma delas. Com 185 mil habitantes, a cidade virou ponto de tráfico e de prostituição, sem qualquer reforço na rede de proteção ao menor. Em março, o Conselho Tutelar de Cabo de Santo Agostinho ficou fechado durante 10 dias, por falta de pagamento da conta de energia elétrica. Apenas uma Kombi transporta os conselheiros. O carro quebra com frequência e é preciso trabalhar a pé.
Luana*, de 13 anos, é uma das jovens assistidas pelo Conselho Tutelar da região do Cabo. Aos 11, ela fugiu de casa pela primeira vez. Sem mala ou documentos, mudou-se para Porto de Galinhas com o marido da irmã, um homem de 28 anos, traficante e usuário de drogas. “Dormia com um revólver do lado do travesseiro para proteger a boca de fumo. Eu usava droga também, em troca, dormia com ele. Depois, ele cansou e eu também. Eu tinha 12 anos.” O nome masculino tatuado no braço da menina não a deixa esquecer que foi tratada como objeto e propriedade. Seduzida, ela deixou que o traficante a marcasse como gado. As feridas invisíveis, porém, superam as cicatrizes externas. “Era criança quando ele me levou. Arrependi de ter gostado dele”, confessa. Luana é dependente química, sai com os homens da cidade em troca de uma porção de crack ou de maconha. Em dezembro, foi estuprada por dois homens e os denunciou à Justiça. Desde então, é ameaçada de morte pelos algozes, que estão soltos.
Há meses, Luana frequenta uma igreja evangélica, levada pela mãe, e tenta encontrar felicidade. Planeja estudar e arrumar emprego para iniciar tratamento dentário. Ela nunca foi ao dentista, também não frequenta a escola. “Não gosto de sonhar alto, porque chega bem ali na frente e não acontece. Então, é melhor nem sonhar muito”, afirma, com a voz e o pensamento endurecidos.
FÉRIAS A antecipação de férias por conta da Copa do Mundo pode agravar as violações dos direitos da infância durante o evento. “No Mundial, todas as crianças estarão fora da escola e nós sabemos que muitos pais não têm com quem deixar seus filhos. Dessa forma, elas ficarão ainda mais expostas, esse é um fator de risco”, diz a coordenadora de programas da Childhood Brasil, Anna Flora Werneck.
No Porto de Salvador, onde já é grande a circulação de crianças e adolescentes, o problema deve se agravar. Kelly*, de 13 aos, Marta*, de 16, e Joana*, de 17, deixaram as casas onde moravam com suas famílias para viver na rua. “É melhor suportar a rua do que a minha casa, com meu padrasto bebendo e infernizando a minha vida”, justificou Marta. Das três, Kelly é a única que ainda mantém relações com a família. As outras duas garotas estão sempre juntas, para tentar se proteger da violência. Joana é filha de traficantes. Não tem casa desde os 5 anos. Acostumou-se a receber ofertas sexuais em troca de R$ 5. Ser mulher precocemente nas ruas de Salvador exige manobras pela sobrevivência. Meninas raspam os cabelos e tentam esconder os seios, para se passar por garotos. “Assim a gente fica mais de boa. Até os policiais mexem com a gente, tia”, conta Gabriela*, de 12.
Luana*, de 13 anos, é uma das jovens assistidas pelo Conselho Tutelar da região do Cabo. Aos 11, ela fugiu de casa pela primeira vez. Sem mala ou documentos, mudou-se para Porto de Galinhas com o marido da irmã, um homem de 28 anos, traficante e usuário de drogas. “Dormia com um revólver do lado do travesseiro para proteger a boca de fumo. Eu usava droga também, em troca, dormia com ele. Depois, ele cansou e eu também. Eu tinha 12 anos.” O nome masculino tatuado no braço da menina não a deixa esquecer que foi tratada como objeto e propriedade. Seduzida, ela deixou que o traficante a marcasse como gado. As feridas invisíveis, porém, superam as cicatrizes externas. “Era criança quando ele me levou. Arrependi de ter gostado dele”, confessa. Luana é dependente química, sai com os homens da cidade em troca de uma porção de crack ou de maconha. Em dezembro, foi estuprada por dois homens e os denunciou à Justiça. Desde então, é ameaçada de morte pelos algozes, que estão soltos.
Há meses, Luana frequenta uma igreja evangélica, levada pela mãe, e tenta encontrar felicidade. Planeja estudar e arrumar emprego para iniciar tratamento dentário. Ela nunca foi ao dentista, também não frequenta a escola. “Não gosto de sonhar alto, porque chega bem ali na frente e não acontece. Então, é melhor nem sonhar muito”, afirma, com a voz e o pensamento endurecidos.
FÉRIAS A antecipação de férias por conta da Copa do Mundo pode agravar as violações dos direitos da infância durante o evento. “No Mundial, todas as crianças estarão fora da escola e nós sabemos que muitos pais não têm com quem deixar seus filhos. Dessa forma, elas ficarão ainda mais expostas, esse é um fator de risco”, diz a coordenadora de programas da Childhood Brasil, Anna Flora Werneck.
No Porto de Salvador, onde já é grande a circulação de crianças e adolescentes, o problema deve se agravar. Kelly*, de 13 aos, Marta*, de 16, e Joana*, de 17, deixaram as casas onde moravam com suas famílias para viver na rua. “É melhor suportar a rua do que a minha casa, com meu padrasto bebendo e infernizando a minha vida”, justificou Marta. Das três, Kelly é a única que ainda mantém relações com a família. As outras duas garotas estão sempre juntas, para tentar se proteger da violência. Joana é filha de traficantes. Não tem casa desde os 5 anos. Acostumou-se a receber ofertas sexuais em troca de R$ 5. Ser mulher precocemente nas ruas de Salvador exige manobras pela sobrevivência. Meninas raspam os cabelos e tentam esconder os seios, para se passar por garotos. “Assim a gente fica mais de boa. Até os policiais mexem com a gente, tia”, conta Gabriela*, de 12.
Os nomes de jovens usados na série são fictícios, em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente