Brasília – Tropas e blindados do Rio Grande do Sul e do Paraná serão deslocadas para o Rio de Janeiro a pretexto de garantir a pacificação do Complexo da Maré, a partir de 31 de maio, e permanecerão na cidade até o fim de julho, ou seja, após a Copa do Mundo, sob responsabilidade do Comando Militar do Sul. O general de brigada Mauro Sinott Lopes, comandante da 6ª Brigada de Infantaria Blindada (Brigada Niederauer), localizada em Santa Maria (RS), assumirá o comando da Força de Pacificação, que terá a estrutura de uma brigada, com 2,1 mil homens. A operação faz parte da estratégia do Palácio do Planalto para garantir a realização da Copa do Mundo sem maiores transtornos, o que inclui mudanças na legislação penal para punir com maios rigor manifestantes que utilizarem a violência e praticarem atos de vandalismo. O emprego de tropas do Sul dificulta o acesso dos traficantes às informações. Na quarta-feira, a presidente Dilma Rousseff, durante a 42ª reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o apelidado “Conselhão”, no Palácio do Planalto, afirmou que não permitirá que a Copa do Mundo de 2014 seja “contaminada” por eventuais episódios de violência e prometeu “segurança pesada” durante o período.
A utilização de tropas do Sul do país para conter distúrbios não é novidade na história do Brasil – vale lembrar que foram os soldados gaúchos que derrotaram e massacraram os jagunços de Antônio Conselheiro na quarta campanha da Guerra de Canudos, sob comando do general Carlos Machado Bittencourt. Estão sendo empregadas com base no novo conceito de “Operações no Amplo Espectro” desenvolvido pelo Exército, que inclui “operações ofensivas, defensivas, de pacificação e apoio a órgãos governamentais ou autoridades civis, no mesmo espaço físico, de forma simultânea ou sucessiva”. Esse conceito foi incorporados à legislação como ações de “Garantia da Lei e da Ordem”, que substitui a velha doutrina de segurança nacional do regime militar, que via manifestações populares como “subversão”, e seus líderes, como “inimigos internos”.
O Exército pretende deslocar 800 homens de Santa Maria (grupo de comando, um batalhão de pacificação e destacamento logístico); e tanques de Santa Rosa (um esquadrão de cavalaria mecanizada), no Rio Grande do Sul; e blindados sobre rodas de Cascavel (dois pelotões de infantaria mecanizada), no Paraná; além de dois batalhões da Brigada de Paraquedistas e um batalhão de fuzileiros navais do Rio de Janeiro, que já estão na Maré. Pela primeira vez, serão utilizados os 13 veículos blindados de transporte de tropas sobre rodas Guarani recém entregues ao Batalhão de Infantaria Mecanizada de Cascavel, que são considerado um meio ideal para operações de pacificação. O governo encomendou a fabricação de 2.044 blindados dessa série para reaparelhar o Exército.
Haiti é aqui Desde 30 de março, 2,5 mil homens do Exército, Marinha e Polícia Militar, com o apoio de 20 blindados, já ocupam o conjunto de favelas do Complexo da Maré, onde vivem 130 mil pessoas, às margens das Linhas Vermelha e Amarela e da Avenida Brasil, principais vias de acesso ao Rio de Janeiro. A experiência adquirida em missões de paz no Haiti já foi usada antes nos Complexos do Alemão e da Penha e nas favelas da Rocinha e do Vidigal.
Mais da metade dos soldados e oficiais que participam dessa operação já estiveram no Haiti e foram treinados no Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil (CCOPAB), criado em 2005, na Vila Militar, em Deodoro, no Rio de Janeiro. Centro de referência internacional para esse tipo de operação, no local há um simulador para treinar patrulhas e uma equipe realiza estudos sobre os chamados “transtornos de estresse pós-traumáticos” – perturbações psíquicas causadas pela ansiedade – , que atingem entre 8% e 10 % dos soldados nesses tipo de operações e são a principal causa de incidentes graves entre eles e civis.