O principal alvo foi o governo federal, representado no evento pelo ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho. Enquanto fazia o pronunciamento inicial no evento, manifestantes estenderam grande faixa vermelha atrás do ministro, na qual se lia “Não vai ter Copa”. Também participaram do evento a vice-prefeita de São Paulo, Nádia Campeão, e o secretário estadual de Planejamento e Desenvolvimento Regional e coordenador do Comitê Paulista da Copa do Mundo, Julio Semeghini.
“O evento de hoje é uma tentativa do governo de aparentar diálogo com a sociedade em relação à Copa, enquanto o Exército está na Favela da Maré e temos todos os atos de protesto contra a Copa sendo reprimidos. O que podemos entender aqui é que há duas intenções: primeiro a de simular diálogo com a sociedade, e o segundo ponto é que é uma via-sacra do governo federal em todos os estados para cooptar os movimentos sociais para não irem para as ruas”, disse Rodrigo Antônio, membro do Território Livre. Segundo ele, as manifestações nas ruas de todo o país vão continuar. Um novo protesto contra a Copa do Mundo já está marcado para a próxima terça-feira (29), a partir das 19h, no Metrô Tatuapé, zona leste da capital.
Carvalho admitiu hoje que o governo demorou a estabelecer diálogo com a população sobre a Copa do Mundo, o que levou as pessoas a protestar em todo o país. “Nós demoramos a conversar.
Quem também protestou foi o padre Júlio Lancellotti. Ele disse que a Copa não trouxe benefícios para a população, principalmente para os moradores de rua. “Basta ver a camisa deles hoje: ‘O povo de rua é o primeiro eliminado da Copa’. Eles são os primeiros a serem varridos. Em São Paulo, saímos do higienismo hostil para o higienismo gentil. Mas é higienismo da mesma forma. Estas pessoas não estão contempladas, e serão varridas”, disse ele à Agência Brasil.
“Não somos contra a Copa. Mas queremos que eles nos incluam. Até agora a Copa não nos incluiu. Pelo contrário, só nos exclui”, disse Tiago de Jesus Reis, coordenador estadual do Movimento Nacional da População em Situação de Rua em São Paulo (MNRP-SP).
Dirigindo-se ao ministro Gilberto Carvalho, o vice-coordenador do MNRP-SP, Renivaldo da Silva Santos, reclamou que houve programas do governo federal para catadores, mas nenhum destinado aos moradores de rua. “Somos moradores de rua, e estamos em situação difícil. Mas temos consciência de que, se investir em nós, podemos ter potencial para mudar. Existem muitas pessoas na rua com falta de oportunidade, mas que tem capacitação profissional e não é usuário de drogas, marginal ou bandido, que só precisa de uma oportunidade”, disse.
A vice-prefeita Nádia Campeão negou que esteja ocorrendo higienismo em São Paulo, ou que a cidade pretenda esconder os moradores de rua dos turistas.
Mas houve também os que foram ao evento para defender o governo ou a Copa. “Somos a favor. Temos que reivindicar melhorias para o país, mas dizer que não vai ter Copa é ruim. Isso não vai ajudar em nada, e só vai trazer maiores problemas”, disse Regis Cristal, diretor executivo da União Geral dos Trabalhadores (UGT) e do Sindicato dos Comerciários de São Paulo. Cristal negou que as centrais sindicais estejam sendo usadas pelo governo federal como tentativa de impedir os protestos pelo país durante a Copa. “Não, não tem isso. Ninguém vai impedir protesto de ninguém.
Maria José da Silva, da Confederação Nacional das Associações de Moradores (Conam), e associada a um partido político que não quis revelar qual, também defendeu a Copa. “Não somos contra, desde que não prejudique a população. O que vemos que está errado estamos cobrando, sem agredir os moradores ou a comunidade”, disse ela.
Foi o quarto diálogo promovido pelo governo federal com os movimentos sociais. Já foram realizados eventos semelhantes em Manaus, Porto Alegre e Belo Horizonte. O próximo está marcado para o Rio de Janeiro. Segundo o governo federal, cerca de 120 entidades foram convidadas ou se inscreveram para participar do evento de São Paulo, que contou com a participação de aproximadamente 400 pessoas.
Antes do início do evento, o ministro disse, em entrevista coletiva, que não acredita na ocorrência de atos ou protestos violentos durante a Copa do Mundo, que possam exigir a utilização da Força Nacional de Segurança. “Esperamos que as forças estaduais deem conta. Até porque, em nossa avaliação, não teremos grandes atos de violência na Copa”, falou. “Esperamos que tudo seja contido pelas forças estaduais, pelas polícias militares. Elas estão sendo preparadas e equipadas, principalmente para o trato com manifestações, para que haja uma conduta a mais adequada possível”, acrescentou..