O presidente da Comissão Estadual da Verdade (CEV) do Rio de Janeiro, Wadih Damous, disse na tarde desta sexta-feira, 25, que a morte do coronel reformado do Exército Paulo Malhães, cujo corpo foi encontrado no sítio em que morava, em Nova Iguaçu (Baixada Fluminense), com sinais de asfixia, pode estar relacionado ao depoimento prestado em março. "Na minha opinião, é possível que o assassinato do coronel Paulo Malhães tenha sido queima de arquivo", afirmou Damous.
Segundo o presidente da CEV, Malhães foi um agente importante da repressão política na época da ditadura e era detentor de muitas informações sobre fatos que ocorreram nos bastidores naquela época. "É preciso que seja aberta com urgência uma investigação na área federal para apurar os fatos ocorridos no dia de hoje. A investigação da morte do coronel Paulo Malhães precisa ser feita com muito rigor porque tudo a leva a crer que ele foi assassinado", disse Damous.
Em março, Malhães prestou depoimento à Comissão Nacional da Verdade (CNV) e revelou ter participado de torturas de opositores do regime militar, durante a ditadura. Disse ainda ter sido o responsável pelo sumiço do corpo do deputado Rubens Paiva, desaparecido em 1971. Demonstrando frieza, o militar admitiu que torturou, matou e mutilou corpos, arrancando dentes e as pontas dos dedos das vítimas. O procedimento, segundo ele, era necessário para para impossibilitar a identificação dos mortos. Perguntado se tinha arrependimento, o coronel afirmou que "não tinha outra solução" e que matou "tantos quanto foram necessários".
De acordo com o relato da viúva Cristina Batista Malhães, três homens invadiram o sítio de Malhães na noite desta quinta-feira, 24, à procura de armas. O coronel seria colecionador de armamentos, disse a mulher aos policiais da Divisão de Homicídios da Baixada que estiveram na propriedade.
Cristina disse que ela e o caseiro foram amarrados e trancados em um cômodo, das 13h às 22h desta quinta-feira, 24, pelos invasores.