Faltando pouco mais de 40 dias para o início da Copa do Mundo de 2014, o encontro começou com críticas à realização do Mundial de futebol.
Moradora da Vila Dique, em Porto Alegre, Sheila Mota relatou o sofrimento da família e dos vizinhos. Metade das pessoas que morava na comunidade foi removida para uma área conhecida na cidade como “Faixa de Gaza”, devido ao grande número de conflitos no local. “Eu perdi o meu filho ali”, relatou, acrescentando que havia acabado de receber a informação de que o genro foi assassinado, no mesmo local. “Nós estamos sendo removidos contra a nossa vontade”, disse Sheila. Para ela, os recursos públicos deveriam ter sido investidos em políticas públicas para a Vila Dique. “O governo não nos dá saúde, não nos dá segurança, mas quer tirar a gente das comunidades onde vivemos há anos”.
“Quando chegamos ali não tinha nada.
Conquistas advindas da organização das comunidades e movimentos sociais também são relatadas no encontro. Uma delas, a da comunidade Lauro Vieira Chaves, em Fortaleza, ameaçada de remoção para a passagem do veículo leve sobre trilhos (VLT). Em 2010, quando moradores começaram a fazer frente ao projeto, 203 casas seriam removidas. O número caiu para 66, depois que eles conseguiram alterar o trajeto do VLT. Além disso, “o conjunto habitacional que seria construído a 14 quilômetros agora vai ser construído a três quadras das comunidades”, contou Gabriel Matos, de apenas 14 anos. Apesar dos impactos terem sido minimizados, ele lamenta as mudanças que foram provocadas. “Muitos amigos meus tiveram que ir embora para longe por conta da remoção, amigos que eu via todos os dias”.
Além das remoções, os participantes apontam outros problemas. É o caso de José Ribamar, integrante do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Construção Civil da Região Metropolitana de Fortaleza (STICCRMF).
Outros grandes projetos em curso no Brasil, a exemplo de empreendimentos de mineração, no Paraná; das reformas em áreas portuárias, como ocorre no Rio de Janeiro; e da construção de hidrelétricas, na Amazônia, foram criticados por gerarem impactos socioambientais. Para Davi, da aldeia indígena Jaraguá, a situação mostra que o país não foi capaz de estagnar a exploração dos territórios e dos povos, que ocorre há mais de 500 anos. “O processo de desenvolvimento é esse processo que exclui os menos favorecidos, extermina os povos indígenas e mata os negros das periferias”.
O evento visa a fortalecer a organização popular para que direitos sejam assegurados. Durante o encontro, uma estratégia comum de ações para enfrentar violações deve ser elaborada, assim como documentos de denúncias e um plano de reparações que deverá ser entregue aos governos, Justiça e Poder Legislativo..