Segundo os pesquisadores, a criança ou o adolescente que sofre agressão fica neurologicamente mais vulnerável ao uso futuro de drogas. Sabemos que qualquer tipo de evento estressante no começo da vida afeta áreas do cérebro que são as mesmas responsáveis pelo desenvolvimento de dependência química e também pela administração do nosso humor, da nossa motivação, explica Clarice Madruga, pesquisadora da Unifesp e uma das coordenadoras do estudo.
Segundo Clarice, esse estresse torna a pessoa mais vulnerável para desenvolver dependência. Claro que também vai depender de outros fatores ambientais, como a facilidade de obtenção da droga e o amparo social que a pessoa tem.
Usuário de crack, cocaína e maconha, o mecânico Donizete Matos, de 28 anos, diz ter iniciado o consumo de drogas depois que começou a apanhar frequentemente do pai, aos 12 anos. Meus pais se separaram e fui morar com o meu pai. Só que minha madrasta não gostava de mim, e eu apanhava muito, geralmente sem motivo, conta o mecânico, que frequenta a Cracolândia, no centro da capital paulista.
Ainda hoje, ele mostra um desvio no osso do nariz e uma cicatriz na perna como marcas das agressões que sofria.
Clarice afirma que a prevalência de crianças agredidas no Brasil é muito superior à observada em outros países que registram a estatística. Enquanto aqui temos 21,7%, em outros países o índice nunca passa de 12%. Para a pesquisadora, a agressão contra os filhos não pode ser vista como natural. É preciso pensar no trabalho de prevenção e estimular que a agressão seja denunciada. As escolas e as unidades de saúde devem ser treinadas para identificar a criança que sofreu algum abuso. Também temos o Disque 100, uma central para denunciar qualquer tipo de violação dos direitos humanos.
Abuso e bullying.
O Lenad mostrou ainda que 5% dos brasileiros relataram já ter sofrido abuso sexual na infância ou adolescência. O índice chega a 7% quando analisados os dados das entrevistadas do sexo feminino. Na maioria dos casos (58%), o autor do abuso era um parente ou amigo da família.
As mulheres também são os maiores alvos de bullying, de acordo com a pesquisa da Unifesp. Entre os homens, 12,1% dos entrevistados disseram já ter sido vítimas da prática. Entre as entrevistadas, o índice foi de 13,8%.
A agressão verbal foi o tipo de bullying mais sofrido pelos que responderam a pesquisa (12%), seguido pelas provocações indiretas, como fofocas, rumores e isolamento social, citadas por 5% dos entrevistados. Os pesquisadores da Unifesp entrevistaram 4.607 pessoas com mais de 14 anos, em 149 municípios brasileiros..