Prestes a ser captada pela primeira vez na história pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) para abastecer a Grande São Paulo, a água do chamado "volume morto" do Sistema Cantareira é a mesma que já é fornecida à população das regiões de Campinas e Piracicaba, no interior paulista, segundo o Departamento de Água e Energia Elétrica (DAEE).
"Entre os mínimos operacionais da Sabesp e essas descargas de fundo há um volume (que é parte do ‘morto’) de, aproximadamente, 368 milhões de m³ (bilhões de litros), que, para os rios do PCJ (Piracicaba, Capivari e Jundiaí) é ‘volume útil’. Abaixo dessas estruturas de descarga de fundo há, ainda, 113 milhões de m³. Esses 113 milhões são o ‘volume morto’ para 0 PCJ", afirma o superintendente do DAEE, Alceu Segamarchi Júnior, no documento obtido pela reportagem.
"Cada uma das quatro barragens, dos Rios Jaguari, Jacareí, Cachoeira e Atibainha, entretanto, tem estruturas de descarga de fundo, que permitem 0 fluxo contínuo de água de partes mais profundas das represas para jusante, mantendo vazões nos rios", afirma Segamarchi.
É justamente esse "fluxo contínuo" da água na reserva profunda uma das principais garantias de que a água do "volume morto" também tem boa qualidade para o abastecimento público. A captação foi autorizada pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), responsável por avaliar as condições da água bruta.
Para o DAEE, sobre o possível risco de contaminação da água por sedimentos concentrados no fundo das represas, cabe à Sabesp e à Vigilância Sanitária avaliar e fiscalizar a potabilidade da água após o tratamento.
Reserva
Segundo o DAEE, a Sabesp vai retirar 183 bilhões de litros do "volume morto" para abastecer a Grande São Paulo. A operação, que é inédita no Cantareira, começa na semana que vem na Represa Jacareí, em Joanópolis. De lá, a companhia prevê retirar 105 bilhões de litros. A partir de junho, a Sabesp diz que estará apta para captar mais 78 bilhões de litros do fundo da Represa Atibainha, em Nazaré Paulista.
Ao comitê que monitora a crise do Cantareira, a Sabesp informou que a reserva deve durar até o fim de novembro. Segundo o secretário estadual de Saneamento e Recursos Hídricos, Mauro Arce, o "volume morto" garante o abastecimento sem racionamento generalizado de água até março de 2015.