São Paulo, 12 - A escassez de água e a possibilidade de racionamento, ainda que negada pelo governo de São Paulo, mobiliza os setores da indústria e da agricultura das regiões abastecidas direta ou indiretamente pelo Sistema Cantareira. A maioria das empresas ampliou medidas para economizar água e espera que a situação melhore em breve. Mas muitas estudam alternativas, como recorrer a caminhões-pipa. O problema já fez uma multinacional parar a produção por duas semanas.
A fabricante de motores Cummins, instalada em Guarulhos, na Grande São Paulo, fez acordo com uma empresa para, em caso de emergência, recorrer a caminhões-pipa que buscarão água em outras regiões. "O impacto que vemos é o financeiro, pois as alternativas sempre geram custos adicionais não planejados", diz Eric Leister, supervisor de engenharia da fábrica.
A Cummins calcula em R$ 12,55 o valor de cada m³ dessa água alternativa, o que geraria um custo de R$ 63 mil mensais. Ela usa em média 5 mil m³ de água por mês, a maior parte para refrigerar equipamentos e máquinas. "Sem isso não temos como operar", informa Leister.
Nas últimas semanas, a Cummins observou dias de desabastecimento e redução na pressão da água entregue. O grupo tem um reservatório abastecido pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) e, para evitar desperdícios, instalou torneiras com regulagens de pressão e controla as lavagens na fábrica.
O presidente da General Motors América do Sul, Jaime Ardila, diz que a empresa tem adotado medidas adicionais para economizar água, além das normais, que incluem tratamento e reaproveitamento. "Não é possível ter um plano B, como fizemos quando houve racionamento de energia", afirma o executivo. No caso da energia, lembra ele, é possível usar geradores, mas "com a água é diferente, não tem como gerar mais".
A opção dos caminhões-pipa, diz Ardila, é inviável por causa do custo. A fábrica em São Caetano do Sul, no ABC paulista, usa em média 80 mil a 100 mil m³ de água por ano. "Por enquanto temos recebido confirmação das autoridades que não há previsão de racionamento."
A Rhodia, multinacional do setor químico, parou a produção por duas semanas na fábrica de Paulínia em fevereiro, quando a vazão do Rio Atibaia, que recebe as águas excedentes do Sistema Cantareira, chegou a menos de 4 m³ por segundo.
"Paramos a produção da unidade de intermediários e poliamida, produtos integrantes da cadeia do nylon, porque não era possível captar o volume de água necessário para resfriar as torres de destilação", diz Carlos Silveira, diretor da unidade.
"Não tínhamos registros de escassez desse porte nos 72 anos de existência do complexo industrial." Segundo Silveira, a Rhodia faz uso racional dos recursos naturais, mas "o que ocorreu foi um fenômeno além do alcance das medidas preventivas". A Rhodia reclama ações mais amplas do Estado para aumentar a vazão.(Colaboraram Laura de Paula Silva e Leda Samara, especiais para O Estado). As informações são do jornal
O Estado de S. Paulo.