O Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) realizou ontem protestos em nove pontos de São Paulo. Um deles foi próximo ao Estádio Itaquerão, palco onde será realizada a partida de abertura da Copa do Mundo, em 12 de junho. Os manifestantes colocaram fogo em barricadas e o clima chegou a ficar tenso entre sem-teto e integrantes da torcida organizada Gaviões da Fiel. Não houve confronto. Os sem-teto também realizaram atos nas zonas Sul e Central. O MTST – que afirma ser apartidário – disse temer uso eleitoral das manifestações das últimas semanas. “O risco de uso eleitoral que estamos vendo nesses protestos é pelos setores conservadores do país, que têm tentado surfar na onda das mobilizações com um discurso que ’não cola’", disse Guilherme Boulous, um dos líderes do movimento. Ele assegurou que o MTST tem a sua posição própria, garantindo que “hoje nós entendemos que nenhum governante está efetivamente comprometido com o atendimento das reivindicações dos trabalhadores”.
Ainda em São Paulo, cerca de 5 mil professores, segundo estimativa da Polícia Militar, protestaram ontem à tarde em frente à Secretaria Municipal de Educação, na Vila Mariana, na Zona Sul de São Paulo. O ato ocorreu após uma série de manifestações terem fechado ruas e avenidas da cidade durante a manhã. Outros atos eram previstos para o período da tarde. Os docentes da rede municipal estão em greve desde 23 de abril e pedem a incorporação imediata do abono de 15,38% anunciado pelo governo, além de outras reivindicações como melhores condições de trabalho, fim das terceirizações e não implementação do Sistema de Gestão Pedagógica. A rede tem em torno de 60 mil professores.
Para o sindicato que representa a categoria, em greve por melhores salários e condições de trabalho, a proposta do prefeito Fernando Haddad (PT), feita na semana passada, altera apenas o valor do piso dos professores, não incorpora abonos e distorce a tabela de vencimentos. Dia 9, Haddad anunciou um bônus de R$ 400 que começaria a ser pago no próximo mês, elevando o piso da categoria dos atuais R$ 2,6 mil para R$ 3 mil. O ato dos professores fechou totalmente a Rua Diogo de Faria, desde o início da tarde, enquanto um grupo de representantes da categoria participaram de uma reunião na secretaria.
Também na capital paulista, houve um protesto na Avenida Paulista, em frente à Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) que reuniu 100 funcionários do Instituto de Organização Racional do Trabalho (Idort), que presta serviços para a Prefeitura de São Paulo. O grupo, segundo a PM, chegou a fechar a pista sentido Consolação da Paulista, entre as 11h e as 14h. Os manifestantes ocuparam duas faixas de rolamento da via. Outros 300 manifestantes fizeram um protesto pelo fim da violência contra menores de idade na Avenida Engenheiro Heitor Antônio Eiras Garcia, na região do Rio Pequeno, Zona Oeste. De acordo com a PM, eles são do grupo Liga Solidária.
Em Brasília, militantes do MTST ocuparam na manhã de ontem a sede da Terracap, companhia imobiliária do governo do Distrito Federal e proprietária do Estádio Nacional Mané Garrincha. O prédio fica próximo ao Palácio do Buriti, sede do governo do DF. Segundo a PM, cerca de 200 pessoas participaram do ato em frente ao prédio, mas a ocupação da entrada do edifício durou 20 minutos. A Polícia Militar chegou a entrar em confronto com 30 manifestantes com o uso de spray de pimenta e cassetetes, para que a entrada do prédio fosse liberada. O protesto em frente ao edifício continuou até que uma comissão de manifestantes foi recebida em reunião com representantes da Terracap.
CEARÁ Em Fortaleza, policiais militares e manifestantes entraram em confronto na passeata contra a Copa na capital cearense, na tarde de ontem. O protesto seguia pela Avenida dos Expedicionários, no Bairro Vila União, rumo à sede da Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor), quando um grupo de encapuzados infiltrados começou o quebra-quebra. O clima ficou tenso. O comércio fechou as portas em vários pontos da cidade e a vitrine de uma loja de confecção foi destruída. Policiais usaram balas de borracha para dispersar o grupo. Muitos manifestantes seguiram por ruas laterais. Inicialmente, o grupo seguia para a Etufor reivindicar passagens de graça para os estudantes.
Os protestos contra a realização da Copa do Mundo, ontem, em cidades-sede dos jogos no Brasil, ganharam repercussão internacional. Matérias desabonadoras ao Brasil pipocaram durante todo o dia nos sites de jornais como o norte-americano The New York Times, o argentino El Clarín e espanhol El País, entre outros.
PROTESTOS NÃO ASSUSTAM GOVERNO
O ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, rebateu as críticas de que a Copa do Mundo é ruim para o país e disse que as manifestações que ocorreram ontem Brasil afora não assustam o governo federal. O que nos preocupa é quando são usados métodos antidemocráticos de violência, seja da polícia, seja de manifestantes. Essa é única preocupação”, disse. “Vamos trabalhar até o ultimo dia da Copa para que a maioria do povo brasileiro isole esse tipo de atitude. O povo é livre para ir às ruas, mas dialogaremos até o fim para que haja manifestações democráticas”, garantiu Carvalho. “A Copa não tirou dinheiro da educação e da saúde, como propagou-se no país que o evento seria paraíso de ganho da Fifa, de corrupção e de elefantes brancos”, afirmou.