Em entrevista, d. Saburido informou que diante de uma resposta afirmativa, será constituída uma comissão que ficará encarregada de pesquisar e analisar escritos e documentos que justifiquem o pedido. Para ele, Dom Hélder era dono de muitas virtudes e tem nome nacional e internacional. "O reconhecimento dele como santo vai ser uma coisa boa para a Igreja e para a sociedade", disse o arcebispo. "Ele vai ser um modelo de determinação, de compromisso com os pobres".
Conhecido como o "Dom da Paz" e "Pastor da Liberdade", d. Hélder foi incansável defensor dos direitos humanos e denunciou internacionalmente a prática de tortura contra presos políticos no Brasil. Indicado quatro vezes ao Nobel da Paz, era seguidor da Teologia da Libertação. Na sua gestão à frente da Arquidiocese, criou a Comissão de Justiça e Paz (CJP), em março de 1968, que veio a se tornar instrumento para denunciar arbitrariedades a exemplo de perseguições, torturas e fechamento de veículos de comunicação social contrários à ditadura. "Rigorosamente dentro da lei e dentro da não-violência, procuraremos enfrentar injustiças venham de onde vierem", disse ele ao criar a comissão. Dois anos depois, teve seu nome proibido até de ser citado na imprensa pelo regime militar.
Saburido fez o anúncio da abertura do processo de canonização de d. Hélder em reunião da Comissão Estadual da Memória e da Verdade, que concluiu investigação sobre a morte do padre Antonio Henrique Pereira. Assessor de d. Hélder na CJP, padre Henrique foi sequestrado, torturado e teve seu corpo abandonado em um terreno baldio do Recife, há 45 anos. A Comissão da Verdade asseverou nesta terça-feira, 27, que o crime foi "político". As autoridades da época o classificaram como crime comum, afirmando que o padre teria sido vítima de grupos de viciados. O arcebispo também anunciou a recriação da Comissão de Justiça e Paz, destituída pelo sucessor de d.
Para d. Fernando Saburido, o processo de canonização de d. Hélder será rico em testemunhos. "É muito grande o número de pessoas que tiveram o privilégio de conviver com o Dom", disse ele, ao reconhecer que o caminho da canonização é muito longo. Nas várias etapas, o postulante precisa ser reconhecido primeiramente como Servo do Senhor; depois precisa ter o reconhecimento de suas virtudes heroicas; em seguida, um compêndio de relatos e estudos precisa ser aprovado pelo papa, que concede o título de Venerável Servo do Senhor. Na próxima etapa há a beatificação e em seguida, vem a canonização, com o pré-requisito de ocorrência de um milagre depois da nomeação como beato..