O estudo, encomendado pelo Sesi Nacional à John Snow Consultoria, foi apresentado em seminário sobre o assunto em Paris, no ano passado, com representantes dos governos brasileiro e francês, além de entidades. A pesquisa avaliou a relação entre as denúncias de exploração de crianças e adolescentes feitas ao Disque 100 com o fluxo de turistas em Salvador e em São Paulo durante 36 meses. O autor do levantamento, Miguel Fontes, explica que as duas cidades foram escolhidas por apresentarem fluxos migratórios diferentes. “São Paulo tem um turismo de negócios, enquanto em Salvador, a motivação é o lazer”, diz o doutor em saúde pública e diretor da John Snow.
O resultado da avaliação é o de que as viagens a lazer contribuem mais para aumento dos abusos do que as de negócios. Enquanto a cada 370 turistas que desembarcavam em Salvador a quantidade de denúncias aumentava, em São Paulo, a variação ocorria a cada grupo de 2.567 estrangeiros.
O estudo da universidade inglesa de Brunel – outra pesquisa que trata do tema – ressalta que os abusos estão por trás de problemas sociais, como pobreza e violência doméstica, por exemplo, possivelmente agravada no período. “Uma atenção significativa tem sido dada à suposta conexão entre esses eventos e a limpeza forçada nas ruas, o tráfico de pessoas e a prostituição, em geral”, diz o resumo da pesquisa. A conclusão é a de que há riscos para as crianças em torno dos eventos, mas não é possível definir a extensão dos danos. No entanto, não se deve supor “que a ausência de dados signifique a ausência de problemas”. A remoção forçada de pessoas e a limpeza das ruas ajudam a colocar as pessoas em situação de vulnerabilidade. Férias escolares prolongadas também são citadas como fatores que podem aumentar a situação de vulnerabilidade das crianças.
Para Anna Flora Werneck, coordenadora de programas da Childhood Brasil, organização não governamental (ONG) que divulgou a pesquisa de Brunel, o Mundial, como qualquer grande evento, acarreta uma série de fatores que aumentam o risco de exploração sexual.
Campanhas De olho na possibilidade de aumento de casos durante a Copa, foi lançada uma série de campanhas governamentais e de outras organizações para alertar que a exploração é crime e estimular as pessoas a denunciarem. A Secretaria de Direitos Humanos afirmou, em nota, que tem buscado fortalecer os Conselhos Tutelares e que repassou equipamentos em 2013, priorizando as cidades sedes. A pasta também afirma que uma série de ações está funcionando “nas regiões impactadas pelas grandes obras e grandes eventos, com a participação de governo, sociedade civil organizada, organizações de cooperação internacional e de responsabilidade social.”
A secretaria ainda informou estar ampliando a campanha “Não desvie o olhar”, que tem como slogan “Fique atento. Denuncie. Proteja nossas crianças e adolescentes da violência.” A iniciativa tem sido veiculada "em diversos materiais impressos e de mídia, rádio, televisão, em três idiomas". Segundo Miguel Fontes, a ONG ECPAT France veicula a campanha na Europa como forma de alertar os turistas sobre a questão antes da viagem ao Brasil.
Norte-americano deportado no Rio
Um cidadão norte-americano condenado por ter molestado um menor de 16 anos foi impedido de entrar no Brasil e deportado, segundo o Ministério da Justiça. O caso aconteceu ontem no aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro.