São Paulo, 08 - Os metroviários têm conseguido aumentos salariais maiores que a inflação e que a média obtida pelos empregados do setor de transportes. Enquanto os empregados do setor tiveram 4,9% de aumento real entre 2011 e 2013, segundo o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Econômicos (Dieese), os metroviários tiveram 6,26%.
Os metroviários argumentam que, dada a superlotação do sistema, os aumentos deviam ser maiores. "O reajuste devia acompanhar o aumento de produtividade. Hoje, transportamos muito mais gente do que há alguns anos", diz Altino de Melo Prazeres Junior, presidente do Sindicato dos Metroviários. Entre 2011 e 2013, o total de passageiros cresceu 2,7%, ou 100 mil pessoas, em média, por dia.
Mas o governo leva em conta outro fator: a tarifa congelada em R$ 3. "A tarifa está congelada há dois anos", disse anteontem o presidente da empresa, Luiz Antonio de Carvalho Pacheco. "O Metrô vive da própria arrecadação", garante, ao dizer que não há subsídios previstos no Orçamento do governo para manter a operação. Dessa forma, o Metrô teve prejuízo no ano passado de R$ 70 milhões. Mas, novamente, propôs reajuste com aumento real, de 8,7%.
Os reajustes mais elevados do que os de outros colegas do setor são fruto da organização sindical, dizem os metroviários. São cerca de 9 mil empregados na empresa, que "prestam sempre atenção" aos movimentos dos sindicalistas, segundo um mecânico que trabalha no pátio da Estação Itaquera. "Quando é época da campanha salarial, a gente sempre vem aqui para o pátio (do sindicato, no Tatuapé, zona leste). Com assembleia cheia, os caras (sindicalistas) vão com mais moral para a negociação. No resto do ano, a gente toca a vida, sem aparecer muito no sindicato." A data-base de negociações é em maio.
O sindicato tem uma lanchonete, banheiros e uma quadra poliesportiva. Às vezes, o espaço é usado pelo Movimento Passe Livre para as aulas públicas que eles dão sobre catraca livre. Nos dois andares acima do prédio, há salas administrativas e de aula, para cursos variados.
Perfil
A categoria é formada por pessoas com muito tempo de casa. "Tenho 27 anos de Metrô", diz, orgulhosa, uma agente da Estação São Bento, no centro, de 43 anos. Outros quatro metroviários com quem o Estado conversou também tinham mais de 20 anos de casa. Mas o medo de aparecer no jornal - no meio de uma greve - fez com que todos pedissem para não ser identificados.
O receio de demissão existe apenas na greve. Os metroviários são concursados públicos, que trabalham sob regime CLT. "Não há risco de demissão, o que é bom. Exceto se o cara apronta, falta muito", conta um agente de manutenção, de 47 anos, que trabalha em Itaquera.
Funções
Há quatro funções básicas na empresa. A pior, dizem, é o agente de estação. É o faz-tudo: confere catracas, dá informações, ajuda nas operações para controlar as filas e, ainda, desce nos trilhos em caso de acidente. "E a gente não ganha adicional de periculosidade. Com a lotação, somos quem mais sofre, porque lidamos com o público", conta outra funcionária da São Bento.
Outra função é a manutenção, dos trens ou de peças, nas oficinas mecânicas. Uma das atividades preferidas - que lotam os concursos internos - é a de condutor. "Na Norte-Sul (Linha 1-Azul), a gente faz quatro viagens por dia. Uma hora e meia cada uma, com uns 15 minutos de intervalo. Mas são muitas frotas diferentes, então às vezes é um trabalho tenso", diz uma condutora com seis meses de experiência - que foi agente de estação por 20 anos.
Há ainda os seguranças. "Você já reparou que são todos fortes? Quando entram, não são assim. Mas começam a malhar quando percebem o tranco", brinca a mesma condutora.
Para finalizar, há o corpo administrativo da empresa - que inclui de engenheiros a operadores do Centro de Controle Operacional (CCO).
Os salários variam muito de acordo com o cargo. O grosso do pessoal da manutenção e da operação das estações ganha entre R$ 2 mil e R$ 4 mil, segundo eles. "A carreira na manutenção tem oito níveis de salários", diz um funcionário. Concursos definem as movimentações internas.
Muitos dos metroviários trabalham na madrugada. São aqueles que abrem ou fecham as estações e parte do pessoal da manutenção. "A gente tem de vir de carro quando entra muito cedo. Quem trabalha nos pátios, se o horário deixa, vem de metrô mesmo. A gente também enfrenta lotação. Mas não pagamos passagem nem no metrô nem no trem da CPTM", afirma o agente da manutenção.
Enquanto o pessoal da manutenção e da administração trabalha em locais fixos, os seguranças viajam pela rede, indo onde são necessários, parando também para ajudar nas filas nos horários de pico. Os agentes ficam lotados sempre na mesma estação, mas a troca de ponto de trabalho também ocorre com frequência.
Famílias
É comum ainda, segundo um funcionário, haver pessoas de uma mesma família trabalhando juntas. "Pai condutor e filho na manutenção, essas coisas. Mas não tem 'mamata'. Só entra por concurso. É que é um emprego estável", diz o mecânico. "Mas isso era mais comum antigamente. Hoje, a lotação assusta muita gente. Você pega uma estação como a São Joaquim. São milhares de pessoas lá todo dia. E ela tem oito funcionários por turno. Tenho duas filhas, Não quero que elas sejam metroviárias", afirma uma das agentes da São Bento. As informações são do jornal
O Estado de S. Paulo.